Título: Zelaya faz exigências para as negociações
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Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2009, Mundo, p. 15

Secretário da OEA se diz otimista em relação ao fim da crise, que já se arrasta por 100 dias

Para iniciar um diálogo, Manuel Zelaya tem suas condições. O presidente deposto exige que o governo interino revogue o estado de sítio, decretado há oito dias, e suspenda o cerco militar à embaixada brasileira, onde se encontra refugiado. Apesar das exigências, a missão da Organização de Estados Americanos (OEA), que negocia um acordo em Honduras, manifestou otimismo de que a crise que se arrasta há 100 dias possa ter um fim. ¿Noventa por cento já estão resolvidos para o início das conversas. Se os 10% restantes são um obstáculo, é preciso ter confiança nos mecanismos da comunidade internacional para que continuem pressionando¿, declarou Zelaya, ontem.

A principal divergência entre os dois lados é a volta do presidente deposto ao poder. ¿Esse é um ponto que até o momento entravou a possibilidade de acordo, mas precisamos justamente gerar condições que permitam resolver essas divergências que ainda persistem¿, afirmou Víctor Rico, secretário de Assuntos Políticos da OEA. Na próxima quarta-feira, 10 chanceleres e o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, desembarcam em Tegucigalpa para dar mais força às negociações. O ponto de partida é o Acordo de San José, proposto pelo presidente de Costa Rica, Oscar Arias, e que visa a recondução de Zelaya ao cargo, rejeitada pelo governo interino de Roberto Micheletti.

Condições Para o presidente deposto, antes do diálogo começar, o atual governo precisa cumprir quatro condições. A primeira é a suspensão do decreto que suprime as garantias constitucionais de locomoção, reunião, organização e liberdade de expressão. A segunda é que sejam reabertos a Rádio Globo e o canal 36 de televisão, meios de comunicação de oposição a Micheletti, que foram fechados pelo governo na segunda-feira passada. Além da retirada do cerco militar à Embaixada do Brasil, onde, segundo Zelaya, o presidente interino ¿os mantêm reclusos como em um campo de concentração¿, e o poder de escolha das pessoas de sua equipe que participarão do diálogo.

Refugiado na representação brasileira há duas semanas, Manuel Zelaya participou ontem de uma missa, ao lado da mulher, Xiomara Castro. Membros de seu gabinete, que estão proibidos de entrar na representação diplomática do Brasil devem ser os escolhidos para defender os interesses do presidente deposto nas negociações. Segundo Zelaya, o acordo sugerido pelo presidente costarriquenho é a melhor saída para a crise. ¿Agradeço aos esforços feitos pela Igreja católica, pelos empresários e outros setores do país para encontrar uma saída, mas acho que o Plano Arias é o melhor instrumento, nós o discutimos por 30 dias na Costa Rica. E já é hora de que o assinemos para não continuar prejudicando ainda mais Honduras¿, concluiu.

Zelaya pediu ontem ao povo que continue na luta por sua restituição ao poder. ¿Após 99 dias do cruel golpe de Estado que fez esta nação retroceder 40 anos, aqui estamos, companheiros, firmes contra a opressão. Vamos continuar gritando nossas verdades até que tenham outra vez no ar os meios de oposição ao golpe¿, afirmou.

Noventa por cento já estão resolvidos para o início das conversas

Manuel Zelaya, presidente deposto