Título: UFF volta atrás e diz que vai cumprir Lei de Cotas já este ano
Autor: Neto, Lauro
Fonte: O Globo, 06/10/2012, O País, p. 14
Pró-reitor afirma que universidade vai se adequar à legislação
Apesar de o reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Roberto Salles, ter afirmado há uma semana que não cumpriria a Lei de Cotas para o ingresso de estudantes já em 2013, o pró-reitor de graduação, Renato Crespo, afirmou ontem que a UFF se adequará à legislação ainda neste processo seletivo.
Crespo afirmou que uma comissão estuda como se dará a adoção das cotas. Pela lei, a universidade têm que reservar 50% das vagas para alunos de escolas públicas e com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio, além de pretos, pardos e índios. Crespo disse que haverá uma definição na próxima semana.
- Como é lei, vamos ter que cumprir. Com certeza, vamos respeitar pelos menos os 12,5% de vagas destinadas às cotas no primeiro ano, inclusive no critério racial, mas ainda estamos estudando o percentual, que pode ser maior - disse Crespo, referindo-se ao percentual mínimo exigido na lei para o primeiro ano de implantação do sistema. O aumento do percentual será progressivo, até alcançar a metade das vagas.
Reitor da uff viaja À África
Com isso, todas universidades federais do Estado do Rio vão se adequar à lei: UFRJ, UniRio e UFRRJ já haviam anunciado o cumprimento da Lei de Cotas no processo seletivo deste ano.
Procurado pelo GLOBO desde anteontem, depois que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, avisou que a aplicação da lei é imediata, o reitor da UFF não retornou as ligações. Fugindo da polêmica, Salles viajou ontem para a África, onde ficará até o dia 13.
Na semana passada, ele fez duras críticas à aplicação da Lei de Cotas, dizendo que o MEC estava querendo "empurrá-la goela abaixo". Também reiterou que a UFF não se adequaria à lei já no próximo processo seletivo e que só o faria proporcionalmente aos recursos destinados pelo governo federal à universidade pelo Programa Nacional de Assistência Estudantil.
A UFF já havia anunciado que 25% de suas vagas para 2013 seriam reservadas para estudantes de escolas públicas estaduais com renda familiar de até um salário mínimo e meio por pessoa. Mas Salles criticou as cotas raciais e chegou a dizer que "pobre é pobre de qualquer cor" e que precisaria "importar índios".
Ontem, o vice-reitor da UFF, Sidney Mello, não quis falar sobre o recuo da universidade em relação às cotas em 2013.
- Como foi o reitor que se posicionou sobre as cotas, não posso falar. Só posso falar sobre nossa missão na África, onde celebraremos um acordo com universidades africanas para desenvolver pesquisas no Atlântico. Isso não interessa a você, não é? - ironizou Mello.
A determinação do governo de que todas as universidades já tenham cotas em 2013 constará na regulamentação da lei, em decreto a ser assinado pela presidente Dilma Rousseff. Ao todo, 19 universidades tinham publicado editais de vestibular sem previsão de cotas. Os editais deverão ser refeitos.
Histórico de polêmica
Não é a primeira vez que a UFF bate de frente com o MEC. Em 2010, quando a instituição destinava só 20% das vagas de seus cursos de graduação a estudantes selecionados pelo Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) - hoje a adesão é de 100% -, Sidney Mello, à época pró-reitor acadêmico, cogitou a hipótese de a universidade descartar o exame.
Isso por temer que a troca de cabeçalhos nos cadernos de perguntas e na folha de respostas do Enem provocasse a anulação do exame, como ocorrera com o vazamento da prova no ano anterior. "A situação mais dramática é se houver a suspensão do Enem. Vamos discutir (...) para ver se dispensamos o resultado do exame e adotamos apenas o vestibular da universidade", disse Mello na ocasião.
Um dia após a publicação da reportagem do GLOBO, Salles desautorizou a declaração de Mello. "Até o momento, não existe nenhuma possibilidade de a UFF não usar o Enem. Eu sou o reitor, e só quem pode falar pela universidade sou eu. O pró-reitor disse que foi mal interpretado", afirmou Salles.