Título: Cordão dos infiéis aumenta mais
Autor: Pariz, Tiago; Queiroz, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 03/10/2009, Política, p. 2

Na cabeça dos políticos, a obrigação de fidelidade partidária é letra morta. Pelo menos 31 parlamentares trocaram de legenda em três meses. Rodrigo Maia, presidente do DEM: partido perdeu cinco filiados e promete buscar mandatos dos infiéis na Justiça Eleitoral

O PT só perdeu e não ganhou ninguém porque fez uma aliança maldita, os aliados dele é que vão atrás dele¿ Sérgio Guerra, presidente do PSDB

Proibida pela Justiça Eleitoral, a infidelidade partidária prosperou e mostrou que o destino preferido de deputados e senadores foi legendas periféricas sem definição ideológica clara, que, com as filiações, têm como único objetivo a capacidade dos parlamentares de puxar votos. Nessa briga, perderam os partidos tradicionais, como o PMDB e o DEM. Com exceção dos peemedebistas, cuja bancada incha e encolhe, os democratas confirmam que estão definhando. O DEM buscará os mandatos dos dissidentes na Justiça para preservar a bancada. O prazo de filiação para eleições de 2010 termina hoje.

O PR foi o partido que mais ganhou filiados. A bancada republicana cresceu de 38 para 46 deputados, mas pode perder dois novatos por ação do DEM e do PDT. As duas legendas vão ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na tentativa de recuperar os mandatos de Nilmar Ruiz (TO) e de Davi Alves (MA), respectivamente. O DEM perdeu nos últimos tempos Edmar Moreira (MG), José Carlos Vieira (SC), Jairo Carneiro (BA) e Bispo Rodovalho (DF). Já há processo movido contra Carneiro e o DEM estuda outro contra o parlamentar do Distrito Federal. Moreira e Vieira foram ¿convidados¿ a deixar a legenda.

Líder do PDT na Câmara, o deputado Dagoberto Nogueira (MS) demonstrou surpresa com a desfiliação de Davi Alves. O maranhense comunicou o desligamento do partido à Secretaria-Geral da Mesa na sexta-feira, mas não avisou ao comando pedetista. ¿Tínhamos um acordo para que ele não saísse. Ele nos procurou, disse que precisava do controle do partido em seu município e nós concedemos. Vamos pedir o mandato dele na Justiça¿, promete.

O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), também anunciou que não poupará esforços para recuperar todos os mandatos perdidos. A posição voraz do DEM reflete o momento difícil pelo qual passa o partido. Apesar de ter bancadas expressivas no Congresso ¿ 57 deputados e 13 senadores ¿, os democratas vêm perdendo votos nas últimas eleições e não têm sido mais um dos destinos preferidos dos parlamentares. No atual troca-troca, ninguém os procurou.

Os outros partidos têm sido mais lenientes com o troca-troca e aceitam perder seus filiados sem o menor pudor. É o caso de PMDB e PT. Os peemedebistas foram os que mais perderam. Sete deputados saíram e apenas dois entraram. O deputado Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara e presidente licenciado do partido, liberou os ¿insatisfeitos¿ a se desfiliar sem qualquer sanção. O PT perdeu quatro parlamentares: os senadores Flávio Arns (PR) e Marina Silva (AC) e os deputados Luiz Bassuma (BA) e Henrique Afonso (AC). Os petistas os liberaram para não transformá-los em vítimas.

Em termos percentuais o partido que mais cresceu é o nanico PSC. A legenda ganhou quatro novos filiados: Zequinha Marinho (PA), Laerte Bessa (DF), Carlos Alberto Canuto (AL) e Marcondes Gadelha (PB). Passa a ter 16 parlamentares e deixa para trás PV e PPS em tamanho de bancada. O PSDB também cresceu, ganhou três deputados, Rita Camata (ES), Marcelo Itagiba (RJ) e Geraldo Tadeu (MG), mas perdeu William Woo, que foi para o PPS.

Críticas

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), atribuiu o crescimento da bancada a parlamentares que querem tomar posição em 2010. ¿É um partido que tem perspectiva de crescimento, de vitória na eleição do ano que vem e tem uma posição clara na disputa com o PT¿, afirmou Guerra. No Senado, o PSDB ganhou duas filiações: Expedito Júnior (RO) e Flávio Arns (PR). Como está em melhor posição, o tucano aproveitou para espezinhar seus adversários. ¿O PT só perdeu e não ganhou ninguém porque fez uma aliança maldita, os aliados dele é que vão atrás dele¿, disse Guerra.

Nesta semana, o troca-troca chegou a 27 deputados, quase o mesmo número de 2005, um ano antes da eleição nacional, quando 33 mudaram de legenda para disputar o pleito em casa nova. O curioso é que naquela época não existia a norma de fidelidade, criada em 2007. O TSE informou que só pode agir se for provocado, mas lembrou que além dos partidos, os suplentes também têm prazo para requisitar os mandatos. O Ministério Público também pode acionar a Justiça Eleitoral.