Título: País pode agora fabricar veículos mais eficientes
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Fonte: O Globo, 06/10/2012, Opinião, p. 20

Os engarrafamentos aumentam nas grandes cidades brasileiras, mas nem por isso o automóvel deixou de ser um sonho de consumo para milhões de pessoas no país. O potencial desse mercado tem atraído novas montadoras de veículos, mesmo em um ambiente de crise internacional. As empresas aqui já instaladas vêm expandindo suas fábricas e abrindo mais unidades. Simultaneamente, crescem serviços atrelados aos automóveis, como o crédito e o seguro (somente neste último segmento, a expansão foi de 14,5%, de janeiro a agosto).

O mercado brasileiro já é apontado como o quarto do mundo (superou momentaneamente o da Alemanha), o que tem atraído o interesse de montadoras ainda não instaladas no país. Diante da importância deste segmento para a indústria de transformação - o automóvel é o bem que proporcionalmente contém mais aço e os mais diferentes insumos usados pelo setor - faz bem o governo em aproveitar tal intenção de investimentos para traçar uma política que estimule a fabricação de veículos mais eficientes.

Assim, o regime automotivo a vigorar do ano que vem até 2017 prevê alíquotas de impostos federais decrescentes conforme a eficiência dos veículos. Os que consumirem menos combustíveis e poluírem menos serão beneficiados por alíquotas mais baixas. Devido ao elevado valor unitário dos veículos, alguns pontos percentuais na alíquota dos tributos farão significativa diferença no preço final de venda, e os consumidores certamente ficarão mais atentos aos modelos mais eficientes.

A eficiência energética será um fator que ajudará carros brasileiros a conquistar consumidores de diversos mercados que se preocupam cada vez mais com o aquecimento global.

Nessa busca por eficiência, o novo regime automotivo felizmente não caiu na tentação de estabelecer como meta a produção no Brasil de um veículo 100% nacional. Já existe uma regra de integração da indústria com o Mercosul: são beneficiados pela união aduaneira veículos que tenham mais de 60% de sua composição (incluindo mão de obra) originários dos países que formam o bloco. O critério reconhece que a cadeia produtiva é globalizada e que não faz sentido se produzir internamente o que não tem ainda escala econômica ou qualidade aceitável.

As montadoras presentes no país reagiram favoravelmente ao novo regime automotivo, pois as metas de eficiência energética são factíveis. O setor já desenvolveu o motor flex, adaptado para o uso de etanol ou gasolina (e qualquer mistura dos dois), focado para o mercado brasileiro, e tal modelo se tornou um sucesso de vendas no país. A indústria responderá ao novo desafio: um veículo brasileiro mais eficiente e menos poluente é perfeitamente possível.