Título: Bancos podem reduzir à metade juros ao consumidor, diz Mantega
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 06/10/2012, Economia, p. 33

Para ministro, não há motivo para taxas altas, já que economia do país está bem

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que os bancos brasileiros podem reduzir pela metade as taxas de juros médias que cobram do consumidor e, assim, chegar aos patamares de economias mais avançadas. Ao GLOBO, avaliou que a situação brasileira é melhor que a de alguns países desenvolvidos e, por isso, não há mais motivo para as instituições financeiras manterem os juros nos atuais patamares.

Mantega afirmou que o governo vai continuar trabalhando para reduzir o custo financeiro e revelou que está debruçado sobre medidas que darão transparência às despesas do brasileiro com juros e tarifas. Conforme mostrou o GLOBO na edição de domingo, o brasileiro tem noção de apenas uma pequena parcela dos juros que paga. Em 2008 (último dado disponível), as famílias pagaram R$ 170 bilhões em custos financeiros, mas estimaram em R$ 3 bilhões essa conta. São os chamados juros embutidos em parcelamentos anunciados pelas lojas como se fossem "sem juros".

- Os trabalhadores estão se formalizando, podem comprovar rendimentos, o domicílio fica mais fixo, o risco da economia brasileira hoje e até menor do que de muitas economias avançadas, então não tem nenhum sentido cobrar juros excessivamente elevados. Juros médios de 40% ou 50% ao ano são muito altos para uma economia que tem uma inflação de 4,5% a 5%. É um juro real muito, muito elevado - enfatizou.

Hoje, os bancos são obrigados a manter em local de destaque o que cobram em juros e tarifas. E as lojas devem deixar claro as taxas cobradas do consumidor ao mês e ao ano. Além disso, o Banco Central (BC) divulga uma lista com tarifas e juros, embora não tenha a relação sobre as dos cartões de crédito.

As diferenças são enormes e nem sempre fáceis de ser identificadas pelos clientes. O último ranking dos juros do crédito pessoal mostra que as taxas podem variar de 8,99% ao ano a 603% ao ano para pessoa física. Para o ministro, falta transparência:

- Estamos trabalhando para ver como é que podemos dar essa informação de forma mais clara. Para tarifas e juros, porque o banco pode querer compensar os juros mais baixos com tarifa mais alta. Estamos de olho. A gente tem que verificar se os bancos estão colocando em lugar visível as tabelas com as taxas, se as tabelas do BC, que fazem a comparação, estão claras. Temo de ver se essa divulgação é suficientemente clara e acessível ao público.

bancos superestimam calote, diz ministro

Para o ministro, por mais que os bancos se queixem da chamada cunha fiscal, que inclui os tributos sobre as operações financeiras, as instituições têm margem para cortar juros e tarifas.

- O setor financeiro, às vezes, nos acusa que a cunha fiscal é elevada. Mas, se você olhar, o que pesa muito é a projeção que eles têm de inadimplência. Eles tendem a superestimar a inadimplência. É preciso atualizar as condições para os dias de hoje, de um país mais sólido onde o crédito é mais garantido.

Mantega destaca a importância de se conscientizar o consumidor brasileiro de seus direitos e recomenda pesquisa de preços, pedidos de descontos e negociação. Ele próprio faz isso, disse, seja pela internet, seja por anúncios. O governo pretende acompanhar com lupa os próximos passos dos bancos para evitar que a redução dos juros seja compensada com tarifas novas ou mais altas.

- Temos que conscientizar o consumidor, que é principal agente desta história. É ele que vai à loja, ou à instituição financeira, pedir crédito. Ele tem que saber que tem alternativas, que não está recebendo um favor. É ele que está fazendo um favor a quem libera o crédito, porque existem outras alternativas - disse.

Embora o mercado financeiro brasileiro seja concentrado, com as dez maiores instituições representando 80% do crédito, o ministro considera que ainda há uma certa concorrência garantida pelos bancos públicos.

- Eles baixam mesmo e obrigam os outros a ir atrás. Pode demorar, mas, a rigor, os outros bancos acabam tendo de ceder também. Se o Brasil hoje tem condições semelhantes aos países avançados em termos de segurança, solidez, e o trabalhador brasileiro tem o emprego mais sólido, então, temos que caminhar em direção aos juros e spreads (diferença entre o custo de captação e o cobrado dos clientes) praticados lá fora. Tem que ter uma adaptação - destacou.

consumidor tem que comparar preços, afirma

Apesar da obrigação de informar os custos aos clientes, muitas lojas e varejistas acabam encontrando formas de embutir esses custos nos preços de forma camuflada. Muitos estabelecimentos dizem vender a prazo, sem juros, quando, na verdade, inflam os preços à vista.

- Eles encontram formas de burlar. Cobram um preço mais alto à vista. É difícil identificar isso. É o consumidor que tem que fazer comparações, tem que comparar preços. Hoje, muita gente tem acesso à internet. Mesmo entre as famílias de renda média ou média baixa, pois o Brasil é o terceiro maior consumidor de computadores do mundo. São cerca de 12 milhões por ano. Então, ou por ali, ou pelas propagandas na mídia, têm que fazer comparação - recomendou o ministro.