Título: A força das sanções contra o Irã
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Fonte: O Globo, 04/10/2012, Opinião, p. 18

O Irã fraquejou. O peso das sanções multilaterais contra o país, provocadas pelo caráter temerário de seu programa nuclear, evidenciou-se de forma aguda, arrastando a moeda local - o rial - a perder 40% de seu valor em uma semana, o que provocou uma corrida por dólares e alimentos, subitamente mais caros.

A insegurança econômica causou tumulto nas ruas de Teerã. A polícia disparou gás lacrimogêneo, prendeu cambistas e entrou em choque com manifestantes, que protestavam contra o presidente Mahmoud Ahmadinejad. Seu governo corre sério risco de desestabilização, diante da insistência dos altos dirigentes iranianos de manter o programa nuclear, apesar das sanções.

Se as dificuldades são crescentes para o iraniano comum, os problemas econômicos do regime soam como música para os que estiveram empenhados em manter a pressão sobre Teerã pela via das sanções, com destaque para os Estados Unidos e a União Europeia. A evidência da eficácia dessa abordagem retira argumentos dos falcões, que defendem uma ação militar para inabilitar ou, pelo menos, retardar ao máximo o avanço nuclear do Irã. Esta hipótese seria catastrófica.

Israel, que compreensivelmente se mantém na linha de frente da opção militar - recorde-se que o Irã sequer menciona o país pelo nome e se refere com frequência à intenção de destruir a "entidade sionista" -, indicara nos últimos dias a disposição de aprofundar as sanções. Decerto os serviços de informação israelenses já tinham detectado os sinais de aumento das tensões internas no Irã.

Como resultado do colapso do rial, o bazar de Teerã, um dos bastiões da Revolução Islâmica de 1979, fechou ontem, diante da dificuldade dos comerciantes de fixar preços para as mercadorias. Em outro sinal dos problemas, 10 mil trabalhadores assinaram uma petição endereçada ao ministro do Trabalho queixando-se da queda de seu poder de compra. Nesse contexto, a face mais visível do governo, Ahmadinejad, fica em situação precária. Ele sempre afirmou que as sanções falhariam.

O Irã tem dificuldades para vender petróleo, a ponto de usar navios para estocá-lo. Com isto, escasseiam as divisas necessárias à importação de bens essenciais. Por outro lado, como resultado das sanções, reservas iranianas em moeda forte estão inacessíveis, bloqueadas em bancos ocidentais. Nesta situação, é consequência previsível uma desvalorização da moeda nacional, estopim de protestos nas ruas, pois os preços internos disparam. É inexorável. E a inflação já passou dos 20%.

A decisão mais sensata da cúpula iraniana é trabalhar com as principais potências e instituições como a Agência Internacional de Energia Atômica para esclarecer as dúvidas sobre seu programa nuclear. Isto permitiria o gradual levantamento das sanções que estrangulam a economia do país. E evitaria desastrosas ações militares.