Título: Eleitores fiéis
Autor: Daibert, Paula;
Fonte: O Globo, 05/10/2012, Mundo, p. 38
Expectativa de mudança, votos pelo fim da violência, gritos femininos e pedidos de casamento marcam comício de Capriles
A multidão de bonés tricolores nos cada vez mais lotados comícios do candidato Henrique Capriles não deixa dúvidas sobre o desejo de mudança política na Venezuela. O acessório virou marca de seus partidários, depois que o Conselho Nacional Eleitoral o proibiu de usá-lo em campanha, por conter as cores da bandeira venezuelana. Mas a proibição teve o efeito contrário, e onde se escuta o jingle "Algo bueno está pasando", aí estão pessoas com o boné. De diferentes idades, raças e classes sociais, gritam unidas pelo amarelo, azul e vermelho: "Se vê, se sente, Capriles presidente!"
preocupação com violência
Mudança é a primeira palavra que sai da boca do eleitorado de Capriles. Depois de quase 14 anos de governo de Hugo Chávez, marcados pela divisão política e um pouco transparente investimento da renda petroleira em programas sociais - as chamadas missões - além dos contratos em condições especiais com países aliados, os eleitores de Capriles querem propostas para os problemas dos venezuelanos. Estão seguros de que o que Chávez não fez em quase uma década e meia de poder, não fará em outro mandato de seis anos. E os desespera a possibilidade de completar 20 com o mesmo presidente, se o líder bolivariano for reeleito pela terceira vez.
A violência é a primeira preocupação apontada pelos eleitores caprilistas. Também querem melhores condições de estudo e emprego, principalmente para os jovens. Associam as palavras progresso e futuro a Capriles.
Em seus comícios, cartazes com o slogan "Há um caminho" se misturam com bonecos do candidato com a faixa presidencial, miniaturas de seu "ônibus do progresso" e bem-humorados pedidos de casamento. "Em processo de divórcio, quero ser sua primeira-dama", se lê em um deles. No auge de sua forma física e inegavelmente charmoso, o advogado de 40 anos está solteiro e arranca gritos das mulheres por onde passa.
GRITOS E SMARTPHONES
Capriles chama a atenção por sua energia. Caminha em meio ao tumulto provocado por centenas de pessoas que tentam se aproximar para tirar fotos. Salta para subir nos caminhões de passeatas e escala palcos improvisados em pequenos povoados venezuelanos. A multidão grita e uma fileira de smartphones registra seus discursos.
Mas a adoração a Capriles não é uma idolatria desvairada e personificada como no caso de Chávez. Seu público - emocionado, sem dúvida - é mais controlado e escuta seus discursos com um sorriso no rosto e olhos de esperança.
O rival de Chávez manda uma mensagem de conciliação e promete que, em seu governo, não haverá espaço para revanchismos e ataques a opositores políticos. E a enfermeira Patrícia Amari, de 26 anos, confia em quem acredita ser o futuro presidente do país.
-Famílias estão divididas entre chavistas e antichavistas e Chávez estimula esse conflito. Mas Capriles será o presidente de todos os venezuelanos - disse.