Título: Parlamento turco aprova ação militar na Síria
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Fonte: O Globo, 05/10/2012, Mundo, p. 38

Erdogan diz não querer guerra; embaixador de Assad manda condolências sem desculpas.

Enquanto na fronteira as Forças Armadas revidavam e faziam disparos de artilharia pelo segundo dia consecutivo contra a Síria ontem, em Ancara o Parlamento turco seguia a mesma linha e endurecia a postura com o regime de Bashar al-Assad. Numa iniciativa rápida, aprovou uma moção proposta pelo premier Recep Tayyip Erdogan autorizando o uso da força e até o envio de soldados ao país vizinho. A medida foi endossada por 320 deputados e rejeitada por 129, e causou alarme dentro e fora da Turquia, onde milhares de manifestantes antiguerra se reuniram para protestar em Ancara e Istambul. Mas, embora tenha enviado a moção ao Parlamento, o Executivo preferiu baixar o tom e adotar um tom apaziguador. Erdogan assegurou não ter intenção de começar uma guerra.

A tensão se concentrou na fronteira. Segundo testemunhas, três canhões do Exército turco dispararam ao menos dez salvas de artilharia contra a cidade síria de Tal Abiyad, a dez quilômetros da fronteira. A ação foi em resposta ao morteiro sírio que, há dois dias, matou cinco civis no lado turco, na cidade de Akcakale.

"A crise atual afeta a estabilidade e a segurança da região e, agora, a escalada da animosidade afeta também nossa segurança nacional", diz um trecho da moção aprovada em Ancara.

QUEDA DE AVIÃO, O PRIMEIRO REVÉS

Na capital, Erdogan ressaltou que outro morteiro sírio caiu ontem no território da Turquia, sem vítimas. Irritado, ele questionou quantas vezes isso poderia ocorrer "por acidente". Mas, apesar da denúncia, tentou reduzir a tensão regional.

- Nós nunca teríamos o interesse em começar uma guerra. A república turca é um Estado capaz de defender seus cidadãos e fronteiras. Ninguém deve testar nossa determinação de cumprir isso - declarou o premier.

Os temores de um conflito armado ecoaram rapidamente na imprensa local. A avaliação geral, porém, é a de que o primeiro-ministro estava agindo de olho no público interno, principalmente diante de relatos cada vez mais frequentes de violações da soberania turca na região da fronteira. Erdogan devia, ainda, uma resposta enérgica ao país desde a derrubada de um jato de reconhecimento turco pelo Exército da Síria em junho passado.

"Para ser honesto, a Turquia ficou sem outra alternativa para responder à artilharia síria que matou nossos cinco civis. Qualquer governo daria a mesma resposta. O que mantém países vivos nesta região do mundo não é sua renda per capita, mas seu poderio militar e sua capacidade de intimidação", argumentou o jornalista Asli Aydintasbas, do diário "Milliyet".

A avaliação é semelhante à da imprensa europeia, que reforçou o apoio recebido pela Turquia na Otan, que criticou duramente a Síria.

"A Aliança Atlântica quer distância da confusão síria. Os embaixadores se reuniram e prestaram solidariedade, mas também elogiaram a Turquia pela postura comedida. A Turquia não agiria sozinha", avalia Ian Black do "Guardian".

DAMASCO DIZ ESTAR INVESTIGANDO

Os sírios, por sua vez, também tentaram abafar os tambores de guerra. E, numa carta às Nações Unidas e ao secretário-geral Ban Ki-moon, expressaram "sinceras condolências" à Turquia pela morte dos civis. No texto, assinado pelo embaixador sírio na ONU, Bashar al-Jaafari, porém, não houve um pedido formal de desculpas. O diplomata disse que seu governo estava "numa séria investigação" sobre o ataque e relatou que dois oficiais do Exército foram feridos na retaliação turca contra Tal Abiyad.