Título: Ocupação não impede boca de urna em favelas pacificadas
Autor: Damasceno, Natanael; Galdo, Rafael; Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 08/10/2012, País, p. 8

Cabos eleitorais driblam vigilância na Rocinha, no Alemão e na Cidade de Deus

A boca de urna dominou o cenário na Rocinha e no Complexo do Alemão, que viveram a primeira eleição depois da instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Mesmo com o efetivo policial reforçado, foi possível ver cabos eleitorais e candidatos driblando, ao longo do dia, a legislação eleitoral. O cenário era parecido na Cidade de Deus, que além dos policiais da UPP, teve a segurança reforçada por parte do efetivo do Exército que veio para o Rio.

Na Rocinha, cabos eleitorais disputaram até o último minuto o voto dos eleitores que compareceram às 52 zonas eleitorais, formando longas filas no início da manhã. Em toda a comunidade, era possível ver distribuição de panfletos, além de bandeiras, placas e galhardetes.

O comandante da UPP local, major Edson Santos, organizou uma grande operação para coibir as irregularidades, que culminou com a prisão de dezenas de pessoas ao longo do dia.

No Alemão, apesar da acirrada disputa de candidatos a vereador, cabos eleitorais faziam boca de urna livremente, em alguns casos usavam até megafone. Não foram registrados incidentes e o clima seguiu tranquilo, depois de mais de 40 anos de domínio do tráfico.

- Agora é liberdade total. A gente vota em quem a gente quer. No Alemão, há democracia - disse o biscateiro Anderson Nascimento.

Alemão aberto a candidatos de fora

Alguns candidatos a vereador também tentavam, com sua presença, lembrar que estavam na disputa, como o vereador Jorge João Silva, o Jorginho da SOS (PMDB) e Márcio Carlos Princisval da Silva, o Dr. Márcio (PSDC). Mas a maioria dos cabos eleitorais estava a serviço do candidato a vereador Wagner Nicácio de Souza, o Wagner Bororó (PSB), presidente licenciado da Associação de Moradores da Grota. Ele é investigado pela polícia como suspeito de intermediar a venda de apartamentos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) no local.

Fazendo frente aos candidatos a vereador da região, podia ser vista na comunidade propaganda de políticos de fora - o que antes era inimaginável - como a de Carminha Jerominho (PTdoB), filha de Jerônimo Guimarães, o Jerominho, condenado por chefiar uma das milícias mais fortes da Zona Oeste.

Na Cidade de Deus a boca de urna também corria solta. O pleito transcorreu vigiado por paraquedistas do Exército, embora a área seja pacificada e não estivesse na lista das que seriam ocupadas pelos militares. Mas nem a presença deles inibiu que eleitores fizessem campanha perto das seções eleitorais, distribuindo santinhos. Durante a votação, as principais ruas da favela ficaram lotadas. Numa delas, até baile funk e um chuveirão no meio da rua havia.