Título: Serra e Haddad duelam no 2º turno
Autor: Uribe, Gustavo; Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 08/10/2012, País, p. 15

São Paulo diz não a Russomanno e deixa disputa entre PSDB e PT; tucano termina 1º turno em vantagem

A eleição mais disputada do país terminou com um resultado que, há duas semanas, parecia improvável. Depois de ficar em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto desde agosto, José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) deixaram o candidato Celso Russomanno (PRB) para trás e vão repetir a polarização entre tucanos e petistas no segundo turno na capital paulista. Na arrancada para a disputa pela cadeira de prefeito em 28 de outubro, Serra larga na frente. Ele chegou em primeiro lugar, com 30,75% dos votos válidos, ou 1.884.849 de votos - com 100% das urnas totalizadas. Haddad ficou em segundo, com 28,98% (1.776.317). Russomanno obteve 21,6 % da preferência dos eleitores, pouco mais de 1,3 milhão de votos.

Gabriel Chalita (PMDB) teve 13,6% e conta com votos valiosos na segunda fase da eleição. Soninha (PPS) ficou com 2,65%. Outros sete candidatos à prefeitura da maior cidade do país obtiveram pontuação máxima de 1,02%. O índice de abstenção chegou a 18,48% na capital paulista.

Serra, que votou ao lado de seu vice Alexandre Schneider, do governador Geraldo Alckmin e do prefeito Gilberto Kassab, por volta das 11h em um colégio da Zona Oeste, evitou falar com a imprensa antes de conhecer o resultado das urnas.

À noite, após saber que havia chegado em primeiro lugar na disputa, usou o mensalão para criticar o PT e prometeu fazer campanha de dia, à noite e às madrugadas para voltar à prefeitura paulistana. O mensalão foi mencionado logo no início do pronunciamento, quando o candidato tucano falou em valores na política brasileira.

- Quero reiterar que, para mim, a ação política é revestida de valores, coisa que no Brasil ameaçou sair de moda e, graças ao STF, está voltando à moda - afirmou o tucano.

Serra também deixou claro que a eleição será difícil e, por isso, pediu empenho total.

- Vamos fazer uma campanha a favor da cidade no segundo turno. A partir de agora, é fazer campanha do bem, a favor da cidade, bem-humorada, dia e noite e também na madrugada.

À população, o tucano agradeceu a acolhida nas ruas e prometeu governar para os mais pobres.

- Quero agradecer o acolhimento que tivemos nas ruas. Se teve um elemento que renovou minha energia, meu entusiasmo e a minha vontade de ser prefeito, foi a acolhida - disse.

Já Fernando Haddad começou o dia às 8h num hotel da Zona Sul, que serviu de quartel-general do PT paulista, onde tomou café da manhã com o ex-presidente Lula e outros apoiadores de sua campanha. Votou em seguida, numa escola na Zona Sul, lembrando ser o candidato cuja candidatura mais cresceu durante todo o período de campanha eleitoral.

- Isso demonstra a força da nossa proposta e de nosso projeto político para São Paulo - disse Haddad, contando que havia dormido pouco à noite porque foi ao show da banda de rock Titãs, na véspera.

haddad destaca importância de SP para o PT

Em coletiva de imprensa no mesmo hotel, à noite, o candidato do PT agradeceu ao eleitor paulistano pela "confiança depositada", e reconheceu que o projeto nacional do partido depende do seu desempenho em São Paulo. Ele afirmou que nos próximos dias buscará o apoio dos partidos da base aliada do governo federal, como o PMDB, PDT e PRB. Ele disse ainda que não acredita que o embate travado contra Russomanno no primeiro turno possa inviabilizar uma aliança no segundo turno.

- Eu não vejo motivo para que isso seja um obstáculo para uma aliança no segundo turno. Nós deixamos claro no início dessas eleições a nossa política de alianças e nós não temos nenhum veto. Nós entendemos que se os partidos apoiam o nosso projeto nacional, é natural que eles estejam conosco - disse Haddad, que se reunirá hoje com a sua coordenação de campanha para estabelecer a estratégia para o segundo turno.

Ele disse que espera um debate eleitoral sem ataques pessoais. Ainda que tenha adotado o discurso "paz e amor", o candidato do PT voltou a fazer críticas ao seu adversário do PSDB.

- O que eu digo é que o José Serra tem uma maneira própria de fazer política, com a qual eu não concordo - criticou Haddad, antecipando que o debate no segundo turno será entre a atual administração e um projeto de mudança.

O petista evitou responder se o escândalo do mensalão pode prejudicar a sua candidatura e também foi evasivo quando perguntado se o deputado federal Paulo Maluf terá espaço em sua propaganda eleitoral:

- Nós estamos numa etapa de aumento de nossa base de apoio. E é nesta estratégia que focaremos nossa atenção.

Foi a primeira vez desde a redemocratização do país que São Paulo viu uma disputa tão acirrada entre três candidatos: na véspera, o Ibope dava empate entre Serra, Haddad e Russomanno, com 26% das intenções de voto cada um. O Datafolha também dava empate técnico, não conseguindo prever quem iria para o segundo turno.

A queda intensa de Russomanno nas últimas duas semanas foi acompanhada de um crescimento lento, porém contínuo, das candidaturas do PT e do PSDB. O maior tempo de TV para Serra e Haddad no horário eleitoral, além da participação de Lula e da presidente Dilma Rousseff na campanha do petista, transformaram na última hora o cenário eleitoral paulistano.

Simulações de segundo turno feitas no último sábado pelo Datafolha mostram que Haddad venceria Serra, com 45% contra 39% dos votos. Há uma divisão clara na cidade. Os bairros centrais deram vitória ao tucano, enquanto na periferia que Haddad conseguiu seu melhor desempenho. Russomanno não venceu em nenhuma das 58 zonas eleitorais da capital.