Título: PRB de Russomanno deve apoiar PT em SP
Autor: Roxo, Sérgio; Freire, Flávio; Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 08/10/2012, País, p. 16

Candidato ainda não declarou apoio, mas aliança nacional com Dilma coloca partido mais próximo de Haddad

Com um patrimônio político de mais de 1,3 milhão de votos e possível fiel da balança no segundo turno da eleição paulistana, Celso Russsomanno (PRB), terceiro colocado na disputa, está mais perto de declarar apoio ao candidato de Lula, o petista Fernando Haddad (PT), na próxima etapa do pleito. No entanto, o candidato ainda não bateu o martelo e prefere atrelar a aliança a um eventual alinhamento com seu programa de governo.

- Vamos discutir juntos e vamos estar juntos. Quem nós formos apoiar tem que estar com projetos alinhados aos nossos. A gente sempre trouxe à frente os serviços públicos de qualidade - afirmou o candidato.

Ontem, antes mesmo que a apuração tivesse sido encerrada, o presidente municipal do PRB, Aildo Ferreira, já dizia que a intenção era seguir com o petista:

- A tendência natural é apoiar o Haddad - declarou.

O partido, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, integra a base de apoio da presidente Dilma Rousseff (PT) e comanda o Ministério da Pesca com Marcelo Crivella (PRB). De acordo com Ferreira, o apoio não implica necessariamente que Russomanno subirá no palanque do petista. Essa possibilidade ainda será discutida nos próximos dias.

Os petistas também devem analisar a conveniência de expor Haddad ao lado de um candidato que viu a sua rejeição crescer para 30% na véspera das eleições, de acordo com a última pesquisa Datafolha realizada antes do pleito.

- Esses apoios de segundo turno geralmente envolvem mais a adesão do partido do que a do candidato - explicou o presidente municipal do PRB.

À noite, o presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, preferiu ser mais cauteloso em relação à aliança com o PT.

- Não existe proximidade (com o governo Dilma). Aqui no estado temos dois deputados estaduais que são da base do governador Geraldo Alckmin. A eleição municipal tem um apelo e a eleição federal tem outro apelo - afirmou.

A troca de ataques entre Haddad e o candidato do PRB na reta final da campanha também é elemento que pode dificultar um eventual ato conjunto no segundo turno. O petista acusou o rival de não ter experiência e propostas. Também foi duro contra o projeto de Russsomanno de cobrar a tarifa de ônibus de acordo com o percurso percorrido pelo passageiro. Na resposta, o candidato do PRB chamou Haddad de "mentiroso".

Para Russomano, as trocas de acusações com Serra e Haddad ao longo da eleição não terão peso.

- Zera tudo a partir de agora - disse o candidato, que ligou para os dois adversários que vão ao segundo turno para cumprimentá-los.

Já o principal partido da coligação de Russomanno, o PTB, só deve definir o seu futuro nos próximos dias. A legenda também faz parte da base do governo federal, mas, o seu presidente estadual, Campos Machado, é um dos principais aliados do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Tucanos e petistas vão comparar administrações no segundo turno

O PSDB, no entanto, deverá entrar nesta segunda fase em desvantagem. Os aliados potenciais de Serra são o PPS da candidata Soninha Francine, que obteve pouco mais de dois pontos dos votos válidos, e o PDT do candidato Paulinho da Força, que não alcançou um ponto.

A comparação de administrações será a arma utilizada tanto pelo PSDB como pelo PT na disputa do segundo turno. Serra e Haddad pretendem expor, principalmente, a diferença de gestões na prefeitura da cidade. O tucano administrou a cidade em 2005 e 2006, depois de substituir a petista Marta Suplicy, que deixou o governo municipal em 2004, após mandato integral. Nos dois lados, além de enaltecer iniciativas em causa própria, Serra e Haddad pretendem ainda apontar as falhas em campos opostos.

Na campanha tucana, um enfoque nacional também está previsto. A rivalidade entre PT e PSDB promete fazer dessa nova etapa da eleição em São Paulo um terceiro turno da eleição presidencial de 2010, principalmente por causa da presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além da comparação de gestões, o mensalão também deve ser explorado na campanha tucana, assuntos que já apareceram no primeiro turno da campanha tucana. A diferença agora, avaliam aliados de Serra, é que o embate direto entre somente dois candidatos permitirá uma abordagem mais intensa.

Haddad também aposta em um confronto comparativo entre as administrações do PT e do PSDB à frente da prefeitura de São Paulo. Além disso, pretende intensificar nos palanques eletrônicos a participação da presidente Dilma Rousseff, que conta com uma aprovação de 55% dos eleitores paulistanos. Desde a semana passada, a coordenação da campanha eleitoral tem esboçado estratégias para o segundo round da disputa municipal, entre elas a de intensificar a exploração à rejeição da atual gestão, recusada por 48% da população paulistana, e a saída de José Serra da prefeitura de São Paulo em 2005, quando disputou o governo estadual.

- Será um embate entre um candidato da situação e outro do campo da mudança - afirmou Fernando Haddad, após o resultado da eleição ontem.