Título: Tucano e comunista na disputa em Manaus
Autor: Krakovics, Fernanda
Fonte: O Globo, 08/10/2012, País, p. 27

Arthur Virgílio sai do 1º turno com 20 pontos à frente de Vanessa Grazziotin, que tem apoio de Lula e Dilma

Mesmo com a participação do ex-presidente Lula em um comício, da gravação de apoio da presidente Dilma Rousseff e da máquina do governo do estado a seu lado, a candidata do PCdoB à prefeitura de Manaus, senadora Vanessa Grazziotin, vai para o segundo turno com desvantagem de 20 pontos percentuais em relação a Arthur Virgílio Neto (PSDB). O tucano teve 40,55% dos votos e ela, 19,95%. Vanessa quase ficou fora do segundo turno, já que o terceiro colocado, deputado federal Henrique Oliveira (PR), teve 16,46%.

Apesar de Vanessa ser o nome do Palácio do Planalto, a tendência é que os outros candidatos da base de sustentação do governo Dilma fechem com Virgílio no segundo turno. Já a comunista, passando por cima da falta de afinidade ideológica, deve receber o apoio do candidato do DEM, o deputado federal Pauderney Avelino, que ficou em sexto lugar, com apenas 2,81% dos votos. Ela justifica o alinhamento por circunstâncias locais:

- O Pauderney é do DEM, mas aqui ele tem muita afinidade com o governo do estado. Não só é amigo do Omar (Aziz), mas tem ajudado muito na bancada (federal).

Vanessa já conversou com a direção nacional do PSB e pretende fazer o mesmo em relação ao PR e ao PTB. O objetivo é tentar garantir pelo menos a neutralidade dos candidatos Serafim Corrêa (PSB), Henrique Oliveira (PR) e Sabino Castelo Branco (PTB), que são mais próximos de Virgílio.

Se o primeiro turno já foi acirrado, com intensa troca de ataques entre os candidatos do PSDB e do PCdoB, a partir de agora o clima deve esquentar ainda mais. A campanha teve até denúncia de agressão física. Vanessa teria sido atingida por um ovo ao chegar a um debate, e colocou a culpa em um integrante da claque de Virgílio. Para ele, o episódio foi uma farsa com o intuito de vitimizá-la.

Ontem o tucano comparou sua campanha à luta de Davi contra Golias, referindo-se aos apoios da presidente Dilma, do ex-presidente Lula, do governador Omar Aziz (PSD) e do líder do governo no Senado, o ex-governdor Eduardo Braga (PMDB-AM), à candidata do PCdoB.

- Meu ídolo bíblico é o Davi, que era um pecador como eu. Davi contra Golias foi agora (primeiro turno), e quem ganhou foi o Davi. No segundo tempo vamos ser um exército de Júlio César - afirmou o tucano, que foi à igreja rezar antes de votar, já confiante na apuração.

Já Vanessa, que derrotou Virgílio para o Senado em 2010, tentou minimizar o resultado. Rejeitou a pecha de que está indo a reboque de Dilma, Lula e Eduardo Braga, e atribuiu seu baixo desempenho à divisão dos votos com os outros candidatos da base de sustentação do governo federal.

- Estou acabando do jeito que comecei, com os meus votos. Agora é uma nova eleição, e vai ficar claro o que cada projeto representa: a mudança versus a continuidade, o novo contra o velho.

Apesar de dizer que não encara essa eleição como uma tentativa de revanche pela derrota sofrida para Vanessa em 2010, na disputa pelo Senado, Virgílio deu mostras disso ao comemorar o resultado. Ele também ironizou o empenho de Lula e Dilma para derrotá-lo:

- Para mim será uma honra receber a presidente Dilma agora e amanhã, quando eu for prefeito. O mesmo se aplica ao presidente Lula.