Título: Vices em primeiro plano
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 11/10/2012, País, p. 35
Em debate, Biden tenta reverter tropeço de Obama; Ryan quer ampliar vantagem republicana
Diz a tradição americana que debates vice-presidenciais não podem ser ganhos, mas apenas perdidos. Quando o vice-presidente Joe Biden e o deputado Paul Ryan se enfrentarem, a partir das 21h (22h de Brasília), em Danville, Kentucky, a pressão sobre os dois será enorme, porque este confronto está sendo encarado como crucial para o resultado da eleição. Após o desempenho pífio do presidente Barack Obama no debate da semana passada, que custou à chapa democrata a liderança nas pesquisas, Biden tem a responsabilidade de ir à revanche, estancando a hemorragia. E Ryan, a missão de confirmar a força republicana, impulsionando o avanço da candidatura de Mitt Romney.
O ORADOR CALOROSO CONTRA O TECNOCRATA
Ontem, pela primeira vez, Obama reconheceu publicamente seu fracasso no debate televisivo da semana passada. Em entrevista à rede de TV ABC, Obama disse que teve "uma noite ruim", e que isso o deixa mais motivado para a revanche, como aconteceria em uma disputa esportiva.
- Acho que é justo dizer que fui educado demais. A boa notícia é que foi apenas o primeiro debate. Acho que veremos um pouco mais de ação no próximo - disse o presidente, considerado apático pela quase unanimidade dos comentaristas políticos, em entrevista a uma emissora de rádio.
Biden, de 69 anos, é um dos políticos mais experientes dos EUA, com 36 anos no Senado antes de chegar a vice-presidente. Conhecido pelo bom humor e pela maneira calorosa de se comunicar, é considerado um bom debatedor, embora tenha em seu passivo um histórico de gafes verbais, que, caso se repitam, poderiam se tornar um pesadelo para Obama em um momento delicado da campanha. Nos últimos dias, as pesquisas mostram a ascensão de Romney, que já está à frente (48,2% a 47,2%) na média nacional dos levantamentos de opinião pública agregados pelo site Real Clear Politics.
Presidente da Comissão de Orçamento da Câmara, Paul Ryan, de 42 anos, foi eleito pela primeira vez em 1988 e está no sétimo mandato de deputado. Considerado um líder intelectual do Partido Republicano na formulação de políticas de austeridade fiscal e redução do déficit, Ryan tem, no entanto, dificuldades para se expressar em termos não tecnocráticos, e parece o tipo de expositor que estaria mais confortável se apoiado por um PowerPoint. Será sua estreia em um debate desse porte, mas ele disse à emissora CNN ontem que ainda não havia pedido conselhos à ex-governadora do Alasca Sarah Palin, que enfrentou Biden em 2008, como vice da chapa republicana encabeçada pelo senador John McCain.
Ambos católicos e descendentes de irlandeses, Biden e Ryan são separados geracionalmente e também por questões ideológicas e morais. Recentemente, Biden defendeu o casamento homossexual, levando o presidente Obama a finalmente assumir que havia mudado de posição e também passara a apoiar a união gay. Ryan é de uma linha católica muito mais ortodoxa, e suas opiniões em temas sociais podem assustar eleitores moderados, se forem expostas no debate.
A última pesquisa do Instituto Pew mostrou que 90% dos americanos têm uma opinião formada sobre Biden, e, para 51% desses eleitores, a visão é desfavorável. Ryan é conhecido por 84% do público, dos quais 40% o avaliam de maneira negativa.
SEM INDIVIDUALISMO, EM PROL DA CHAPA
Estrategistas de campanha dizem que os candidatos a vice precisam entender, na noite do debate, que pode ser a mais importante de suas carreiras políticas, que o assunto não são eles, mas os candidatos a presidente. Uma atuação só é considerada boa se melhora a avaliação do companheiro de chapa.
Segundo dados do Instituto Gallup, a comparação de pesquisas de intenção de voto feitas logo antes e depois de debates entre candidatos a vice-presidente desde 1976 mostra que não houve alterações significativas.