Título: Racha para reduzir juros
Autor: Oswald, Vivian ; Scrivano, Roberta
Fonte: O Globo, 11/10/2012, Economia, p. 27

Por 5 votos a 3, BC corta taxa básica para 7,25% ao ano. Para analistas, queda terá pausa

inflação x crise global

Dividido, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou ontem em 0,25 ponto percentual os juros básicos da economia, que atingiram novo patamar histórico: 7,25% ao ano, na décima queda consecutiva. Mas foi a primeira vez desde março que a decisão não teve o aval de todos os diretores que participam da reunião. Foram cinco votos pelo corte e outros três pela manutenção da Selic em 7,5% ao ano. Para o mercado, ficou claro que o BC dará uma pausa nas reduções, mas, com a esperada pressão inflacionária, há apostas de que pode voltar a subir já no terceiro trimestre de 2013.

O comunicado divulgado ao fim da penúltima reunião do Copom do ano evidencia a preocupação com o cenário internacional, a despeito das pressões inflacionárias no mercado doméstico. "Considerando o balanço de riscos para a inflação, a recuperação da atividade doméstica e a complexidade que envolve o ambiente internacional, o comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear", diz o documento.

- Está bem claro. Esta foi a última redução nos juros, que devem ser mantidos por um longo tempo onde estão. O grande jogo do mercado, agora, é saber quão longo será esse período - disse o economista-chefe do banco ABC, Luís Otávio Leal.

taxa deve subir no médio prazo

O mercado já considerava a possibilidade de nova redução, principalmente em função da avaliação de que a Europa está longe de conseguir se recuperar e de nova advertência do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a fragilidade da economia do velho continente. O que surpreendeu foi a divisão dos membros do Copom.

- Esta foi a forma de sinalizar que o processo foi pausado, mas há gente no BC que acha que pode cair mais. O recado é que a taxa será mantida pelo tempo que for preciso. Mas o ciclo de queda pode ser retomado no futuro próximo - avaliou a economista Monica de Bolle, da consultoria Galanto.

A primeira redução da Selic no governo Dilma se deu em agosto do ano passado, quando a taxa passou de 12,5% ao ano para 12% ao ano. Desde então, a autoridade monetária vinha promovendo cortes iguais ou superiores a meio ponto percentual. No início da atual gestão, a Selic estava em 11,25% ao ano e chegou a bater 12,5% ao ano após quatro altas consecutivas.

Quando cortou os juros pela última vez, em 0,50 ponto porcentual, a ata do Copom sinalizou que uma nova queda, se possível, seria feita com "máxima parcimônia", o que foi visto por parte do mercado como um sinal de que haveria espaço para uma nova redução, desta vez, de 0,25 ponto. A aposta ganhou força nos últimos dias, depois que o diretor de Assuntos Internacionais do BC, Luiz Awazu Pereira, mencionou um cenário insistente de crescimento "medíocre" na economia mundial por um período mais prolongado do que se antecipava inicialmente.

- Foi isso que mudou a cabeça do mercado, que vinha contando com uma manutenção da Selic até a semana passada - afirmou Leal.

Para alguns analistas, baixar os juros agora é sinalizar que as taxas deverão voltar a subir no médio prazo para conter a inflação.

- Se olharmos para o mês de outubro, havia espaço para uma queda, porque a atividade está andando bem devagar. Mas, para o ano que vem, não. Baixando agora, o BC vai ter que subir em breve. Não é bom, dá uma sinalização ruim. As expectativas de taxas de juros para o longo prazo podem aumentar e prejudicar a recuperação da atividade - disse o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central.

Para Rafael Leão, economista da consultoria Austin Rating, o governo está preterindo os juros em detrimento do nível de atividade e emprego maior:

- Existe uma tolerância com uma inflação mais alta. A recuperação não está consolidada - disse.

brasil vai para 4º no ranking mundial

No ranking das economias com os maiores juros do mundo, a Rússia caiu uma posição devido à disparada da inflação no país, cuja projeção para os próximos 12 meses passou de 3,6% (em abril) para 6,6%. Assim, o Brasil subiu da quinta para a quarta posição, a despeito do novo corte. Ainda assim, o patamar atual do juro real brasileiro, de 1,7%, é histórico, o mais baixo já registrado no país, que por anos ostentou o topo da lista das maiores taxas do mundo.

- No quarto trimestre deste ano o Produto Interno Bruto já virá quase bom e deve haver uma melhoria a cada trimestre. Se isso de fato ocorrer, e é a expectativa, no terceiro trimestre de 2013 o aumento do juro será inevitável - projeta o economista Thiago Davino.

O novo corte na Selic foi elogiado por setores empresariais e lideranças sindicais. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão mostrou que o Banco Central está atento ao momento de recuperação do país em um ambiente internacional frágil e de elevada liquidez. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), afirmou que o Copom manteve o "rumo correto". já que a recuperação da economia ainda é incipiente.

A Força Sindical, de seu lado, criticou o que chama de "política a conta-gotas" do Copom para baixar os juros, o que, segundo a entidade, mostra que o governo é conservador.