Título: Genoino diz viver sensação de noite escura
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 10/10/2012, País, p. 8

Ex-presidente do PT ficou recluso e falou por meio do seu advogado.

O ex-presidente do PT, José Genoino, condenado ontem no julgamento do mensalão, por sete votos a um, pelo crime de corrupção ativa, passou o dia trancado em sua casa, no bairro do Butantã, em São Paulo, e não quis falar.

O advogado de Genoino, o criminalista Luiz Pacheco, leu para o GLOBO uma mensagem do ex-deputado.

- Estou indignado. É a sensação de estar numa noite escura, de ser inocente e estar condenado. Mas a coragem me dá sentido à luta pela liberdade - escreveu José Genoino.

Durante o dia, sua mulher Rioco Kayano pediu para a equipe do jornal deixar a rua onde moram. Ela recebeu vários telefonemas, como era possível escutar do lado de fora. À distância, ela parecia falar com pessoas que prestavam solidariedade ao líder do partido. Com o mesmo volume de voz com que tentou expulsar o jornalista e o fotógrafo, Rioco atendia ao telefone procurando mostrar tranquilidade, enquanto ministros do STF decidiam o destino do ex-guerrilheiro.

- Tudo bem, ele está tranquilo. Na verdade, ele já esperava isso - repetia ela aos interlocutores.

Empréstimos de R$ 3 milhões

A mulher do petista, ainda exaltada, exigiu que não fossem feitas fotos na rua, assim como ameaçou a equipe dizendo que chamaria a polícia, o que não foi feito. Uma mulher também apareceu entre as cortinas da sala, protegida pela meia-luz produzida apenas pela iluminação pública. Perguntou até que horas a equipe pretendia permanecer no bairro. E fez um apelo:

- Por favor, deixem a gente em paz.

Genoino não atendeu aos pedidos de entrevista. Segundo a mulher dele, o petista não tinha "interesse algum" em falar com a imprensa. No domingo, ao votar em um colégio do bairro, ficou nervoso com os jornalistas. Chamou os repórteres de urubus e disse que a imprensa o tortura como fez a ditadura, "mas com a caneta".

O envolvimento de Genoino com o mensalão se deu por conta dos empréstimos que ele autorizou, segundo os ministros "conscientemente", como avalista. No valor de R$ 3 milhões, esses recursos foram, ainda de acordo com o STF, simulados junto ao Banco Rural para justificar a origem do dinheiro movimentado pelo chamado valerioduto.