Título: Partido deixa cálculos para serem feitos pela Comissão
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 30/09/2012, O País, p. 13

Teto considerado por integrantes chega a R$ 100 mil apenas

BRASÍLIA O PCB diz ser impossível quantificar os danos e deixa a critério da Comissão da Anistia o cálculo desse prejuízo. Integrantes do colegiado entendem que o pedido é controverso e se, aprovado, o partido terá direito ao teto máximo de prestação única, que é de R$ 100 mil.

A UNE foi anistiada recentemente, recebeu mais de R$ 20 milhões pela destruição de sua sede, no Rio, mas foi uma iniciativa do Congresso Nacional. O PCB diz que, se a UNE foi beneficiada, eles também podem ser.

O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, afirmou que na história republicana brasileira os comunistas são, comprovadamente, o grupo político que mais sofreu perseguição ao longo do tempo.

- Nossa Constituição prevê reparação aos que foram atingidos por atos de exceção desde 1946 exatamente pelo fato de que, nesta época, o Partido Comunista foi colocado novamente na clandestinidade, após a Assembleia Constituinte - disse Paulo Abrão, acrescentando tratar-se de um pedido de anistia incomum, mas garantindo que a comissão "se debruçará sobre ele no tempo certo e tomará a decisão segundo a legislação".

Ivan Pinheiro afirmou que irá protocolar o documento também na Comissão da Verdade.

- Recebemos informações, denúncias e documentos que contam a história dessa perseguição - disse Pinheiro.

Parte desses documentos, inédita, está anexada ao pedido na Comissão de Anistia. Arquivos da repressão demonstram essa perseguição. Há ainda documentos de autoria de Marighella, sobre a atuação eleitoral do PCB no cenário de ilegalidade, e relatos sobre reuniões e congressos do PCB.

Antigo integrante do PCB e um dos fundadores do PPS, o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP) discorda do pedido da direção de seu antigo partido. Freire foi candidato a presidente pelo PCB em 1989. Obteve cerca de 770 mil votos. O PPS considera que sua história é a do antigo PCB.

- Nós fizemos o que devíamos. Fomos perseguidos, companheiros nossos foram assassinados, mas a compreensão é que fizemos o que tinha que ser feito. Não estamos precisando de nenhuma indenização e não queremos pedidos de desculpas de ninguém. Isso não é negócio de igreja. Cumprimos nossa obrigação de comunistas, de lutar por outra sociedade e contra outro regime, que nos perseguiu. E que para nós basta. Tanto que saímos vitoriosos e hoje vivemos uma democracia - disse Freire. - Agora, quem quiser ser herdeiro de 22 (ano de fundação do PCB) pode ser. Só não quero que se desvirtue a História.