Título: Barroso cobra mais responsabilidade
Autor: Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 03/10/2009, Mundo, p. 27

Presidente da Comissão Europeia elogia governo Lula, mas pede atuação incisiva

Bruxelas ¿ A ¿cumplicidade¿ com o Brasil nas mais importantes questões globais, como a crise financeira e as mudanças climáticas, não impede que o presidente da Comissão Europeia (CE, braço executivo da União Europeia), José Manuel Durão Barroso, cobre do país um envolvimento mais decidido em temas espinhosos, como a proliferação de armas nucleares. ¿Ser maior também é ter maior responsabilidade. Não é só ter mais poder e influência: com a influência vem a responsabilidade¿, disse Barroso, que recebeu ontem um grupo de jornalistas brasileiros, às vésperas da 3a Cúpula UE-Brasil, que se reúne na próxima terça-feira em Estocolmo, na Suécia.

¿O Brasil tem uma voz cada vez mais importante nas questões globais, por isso espero que o presidente Lula utilize não só a força e a influência do Brasil, mas também sua própria autoridade política ¿ hoje ele é um líder muito respeitado ¿ para avançarmos nesse objetivo de não proliferação nuclear¿, disse Barroso, respondendo a uma pergunta sobre a esperada visita do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, a Brasília. O presidente da CE deixou clara a preocupação com os repetidos desafios do regime de Teerã à comunidade internacional. ¿Uma coisa é certa: um Irã com armas nucleares, numa região como o Oriente Médio, é uma ameaça à paz regional e até mundial.¿

Barroso indicou que o Brasil não pode se contentar em ser ¿o maior país da América Latina¿ e mostrar liderança na vizinhança, como fez no caso da crise em Honduras. Aproveitou para reiterar o ¿apoio irrestrito¿ da Europa aos ¿esforços brasileiros para restaurar a institucionalidade democrática¿ no país centro-americano, convidou as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA) a tomarem mais atitudes e reiterou a posição em favor da recondução do presidente deposto, Manuel Zelaya, refugiado há quase duas semanas na embaixada brasileira em Tegucigalpa. Se Zelaya tivesse procurado uma representação europeia, garantiu, encontraria igualmente portas abertas.

Aquecimento

O presidente do executivo europeu também conta com Lula para ajudar a UE a promover o que classifica como ¿objetivos ambiciosos¿ para a cúpula ambiental de Copenhague, em dezembro, quando os líderes mundiais tentarão aprovar um tratado que suceda ao Protocolo de Kyoto sobre as mudanças climáticas. ¿Confesso que estou preocupado, porque as negociações estão indo muito devagar¿, afirmou, embora elogiando os Estados Unidos por darem ¿passos na direção certa¿ sob o governo de Barack Obama. Barroso elogiou os compromissos do Brasil na luta contra o desmatamento: ¿Eu conheço bem o envolvimento do presidente Lula, portanto espero que nos ajude a encontrar uma posição ambiciosa (em Copenhague)¿.

A UE, ressaltou o presidente da comissão, foi o primeiro ator de primeiro plano a assumir metas obrigatórias de redução das emissões de gás carbônico. ¿Foi uma proposta minha, aprovada por todos os países-membros, que já foi transformada em lei e obriga a Europa a, até 2020, reduzir as emissões em 20%, em comparação com 1990¿, ressaltou. ¿E iremos a 30% se outras economias desenvolvidas fizerem um esforço comparável.¿

Também em relação à crise financeira mundial, Barroso destacou o papel que a economia brasileira poderá cumprir, como uma das primeiras a sair da recessão. ¿O Brasil tem um potencial de crescimento maior que o da Europa. Tem uma economia grande, maior que a da Rússia, e se conseguirmos avançar na Rodada de Doha ou também no acordo comercial entre UE e Mercosul, será uma ocasião para promover maior comércio¿ entre o país e a Europa.

O presidente da CE, embora otimista com as perspectivas de reforma nas instituições financeiras multilaterais ¿ ¿queremos uma globalização com normas, princípios e valores¿ ¿, alerta contra o excesso de euforia. ¿Conseguimos evitar o pior, que seria uma completa deriva financeira, mas não se pode dizer que a crise acabou enquanto o desemprego continuar subindo¿, ponderou, referindo-se ao panorama ainda sombrio do trabalho nos países europeus.

O Brasil tem um potencial de crescimento maior que o da Europa¿

José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia