Título: Em SP, debate moral aumenta agressividade na campanha
Autor: Ribeiro, Marcelle ; Uribe, Gustavo
Fonte: O Globo, 17/10/2012, País, p. 8

Serra ataca estímulo a "bissexualismo"; Haddad critica "intolerância"

A 12 dias da eleição na capital paulista, as campanhas dos candidatos José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) assumem um tom cada vez mais agressivo, embaladas por um debate moral que vem sendo travado desde a semana passada. Ontem, Serra atacou Haddad, dizendo que a cartilha anti-homofobia elaborada pelo Ministério da Educação, quando o petista comandava a pasta, estimula o "bissexualismo". O petista reagiu e acusou o adversário de estimular a intolerância. Em meio à troca de ataques, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apareceu ontem no programa de TV de Haddad, pela primeira vez no segundo turno, e reforçou a artilharia contra o PSDB.

- A cartilha do MEC estimula a prática do bissexualismo - disse Serra, em entrevista à rádio CBN. - Ela diz, no filme (em um vídeo), que o jovem que tiver preferência por mulher e por homem aumenta em 50% a chance de ter companhia no fim de semana. Tem um erro matemático, e é incrível que o Ministério da Educação cometa erro dessa natureza, porque na verdade aumenta 100%. Ela não é cartilha contra o preconceito. Ela induz um certo tipo de comportamento sexual e fala "é mais vantajoso você ter duas opções sexuais". É o cúmulo.

O tucano defendeu, por sua vez, a cartilha anti-homofobia feita na gestão dele no governo de São Paulo, em 2009. Segundo ele, as cartilhas são diferentes.

A comparação entre os dois materiais, na entrevista, provocou bate-boca entre o candidato e o colunista da emissora Kennedy Alencar. Serra acusou o jornalista de não ter lido o material do governo de São Paulo.

Mais tarde, Haddad rebateu a declaração de Serra. Ele disse que a campanha do tucano produz efeitos "deletérios" para a democracia:

- Ele, indiretamente, estimula a intolerância, sim, porque, quando você desinforma, cria uma nuvem de insegurança nas pessoas, que é própria de quem quer promover esse tipo de preconceito. Isso que é ruim, a desinformação é ruim para a democracia.

renúncia no fogo cruzado

Em meio ao fogo cruzado, Lula apareceu na TV para defender a gestão de Haddad no Ministério da Educação, classificada como péssima pelos tucanos. O ex-presidente acusou os adversários de mentirem.

- Não quero dar aula de política a ninguém, mas aprendi que não se ganha eleição falando mentiras. E os tucanos estão falando mentiras do Haddad. Os dados mostram. Ele foi o melhor ministro da Educação que o país já teve - rebateu Lula.

À CBN, Serra disse que não está disposto a assinar neste ano um documento se comprometendo a cumprir o mandato por quatro anos, caso seja eleito prefeito. Ele disse que, até o momento, não antevê nenhuma circunstância que possa justificar um eventual abandono do cargo. Na eleição de 2004, o tucano assinou carta prometendo cumprir todo o mandato, mas deixou a prefeitura para se candidatar a governador em 2006. O episódio é usado contra ele nas campanhas eleitorais desde então.

Serra disse que a assinatura do documento "virou palhaçada" e, por isso, não pretende assiná-lo novamente:

- Não, porque virou palhaçada a coisa do documento. A afirmação está feita. É só passar a gravação (da entrevista), se houver alguma dúvida (sobre o cumprimento do mandato).

Haddad ironizou:

- Nenhum documento que assinei na vida virou palhaçada.

Ontem, a Executiva Nacional do PDT contrariou o presidente do partido em São Paulo, Paulinho da Força, que anunciou apoio a Serra, e apoiou a Haddad. Lideranças nacionais receiam que a sigla seja prejudicada na reforma ministerial ano que vem. O partido é aliado do Planalto e ocupa o Ministério do Trabalho.