Título: Especialistas: busca por voto religioso deve render poucos frutos
Autor: Uribe, Gustavo; Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 14/10/2012, País, p. 8

Para estudiosos, mapas políticos de SP são "estáveis", e partidos têm mais força do que a fé

O esforço feito pelas campanhas de Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB) para cooptar apoios de padres e bispos visando a conquistar o voto religioso pode não surtir tanto efeito. Especialistas que acompanham o processo eleitoral e que avaliaram as eleições presidenciais de 2010 - que contaram com doses cavalares de polêmica religiosa - atestam que nem sempre a fé move um voto.

- Quando observamos a votação que o PSDB teve com Geraldo Alckmin na eleição de 2006, pleito sem disputa religiosa, e a que José Serra teve em 2010, quando o tema ferveu, vemos uma diferença mínima. Se o voto religioso realmente tivesse acontecido, o cenário seria totalmente diferente. Os tucanos teriam oscilado bem mais - defende Alberto Carlos Almeida, autor do livro "A cabeça do eleitor".

Para o especialista, a religião também não influenciará as eleições municipais de São Paulo. Lá, afirma ele, os mapas eleitorais "são estáveis há anos":

- Os candidatos fazem a peregrinação religiosa porque faz parte da vida de político correr atrás de apoio, mas a tal força do voto religioso é algo em que as pessoas preferiram acreditar. Não necessariamente uma verdade.

Para o professor e cientista político da PUC-Rio César Romero Jacob, as forças políticas de PT e PSDB são bem maiores do que as religiosas existentes hoje em São Paulo, e ambos os partidos comportam votos de diversas crenças:

- Mas acho correto investirem na agenda religiosa. É a primeira vez em que a religião apareceu de forma clara numa eleição da cidade de São Paulo. O Gabriel Chalita (PMDB) mobilizou o eleitorado católico que mora no Centro, e o Celso Russomanno (PRB), o evangélico da periferia. Serra e Haddad precisam desse voto, mas não dependem só dele.

Para Romero Jacob, a maior prova do que diz é o resultado de Russomanno:

- Era um candidato católico num partido evangélico. Não teve sustentação.

- O que tirou Russomanno do páreo foi a proposta da passagem de ônibus proporcional à distância percorrida, ideia inconsistente - completa Almeida.