Título: Chances iguais para Obama e Romney
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 17/10/2012, Mundo, p. 31

Empate técnico coloca em risco reeleição do presidente, que perde votos até em estados democratas

A 20 dias da votação, as eleições nos Estados Unidos se consolidaram como um terreno incerto, em que uma vitória do presidente Barack Obama ou de seu oponente, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, tem na prática chances iguais de acontecer. Muito mais do que os resultados das pesquisas nacionais, foram os levantamentos regionais - especialmente nos 12 estados sem coloração partidária definida ( swing states ) - conduzidos no fim de semana e anteontem que cravaram o empate técnico, após liderança firme do democrata desde o verão americano. A matemática ficou tão confusa que todos os principais institutos sustentam agora apenas a inclinação do Missouri a um dos candidatos - o republicano. Nos outros 11, as margens estão apertadas demais para que se aponte um favorito.

Numa corrida definida por colégio eleitoral, este cenário é preocupante para Obama. São necessários 270 dos 538 votos disponíveis para chegar à Casa Branca. O vencedor de um estado carrega todos os votos, não há divisão proporcional à votação popular. Desde o fim de setembro, as projeções para o presidente pioraram muito: dos 221 votos que eram considerados assegurados por ele, 20 saíram de sua contabilidade e passaram a ser disputados por Romney, que tem 191, sem alteração. O cálculo é do site RealClearPolitics.com.

HABILIDADE PARA MOBILIZAR BASES

Deixaram de ser portos seguros para Obama estados de tradição democrata como Pensilvânia e Michigan, dos quais a campanha republicana estava se retirando no início do mês e onde agora rediscute uma ofensiva. As vantagens sólidas do presidente em Wisconsin, New Hampshire e Iowa também desapareceram.

A Flórida é um sonho cada vez mais distante para Obama. Os esforços principais do time da reeleição, do ponto de vista de agenda e recursos financeiros, são para interromper a queda em Ohio - estado que vale 18 votos e tem 42% de chances de definir as eleições, segundo o "New York Times".

Ou seja, aumentaram consideravelmente as combinações de vitórias estaduais que Romney pode fazer para bater o adversário. Para virar o jogo, o republicano tem a seu favor o efeito-onda de sua escalada no eleitorado (o que também deve atrair mais doações à campanha) e o fim da vantagem de Obama entre as mulheres. Já o presidente tem de vencer o desânimo em sua base e o desafio de montar a estratégia da reta final: se vai redirecionar esforços a estados como a Pensilvânia ou se concentrar em campos de batalha cada vez mais acirrados.

Para a estrategista democrata Celinda Lake, o cenário deixa claro que esta eleição será vencida em campo, ou seja, pelo candidato cuja campanha tiver a maior habilidade de tirar de casa para votar os grupos nos quais lidera. Para Obama, negros, latinos, mulheres solteiras e jovens. Para Romney, mulheres casadas, homens brancos e idosos.

- O imperativo é maior para os democratas, pois Romney lidera por 51% a 47% entre os eleitores que se declaram extremamente inclinados a votar. Entre aqueles muito inclinados, Obama lidera por 54% a 41%. A vitória será de quem energizar melhor sua base - explica Celinda.

REPUBLICANO: cenário semelhante ao de 1980

Na pesquisa nos 12 swing states do site de notícias Politico.com com a Universidade George Washington, Obama tem 49% das intenções de voto, contra 48% de Romney. O resultado está dentro da margem de erro. Já no levantamento do "USA Today" com o instituto Gallup, o republicano abriu 4 pontos na média dos mesmos estados, 50% a 46%. Contando estado a estado, Obama - com diferenças que vão de 0,5 ponto em New Hampshire a 5 pontos na Pensilvânia - ainda lidera em oito dos 12.

As pesquisas, porém, estão oscilando tremendamente, ao sabor do número de entrevistados e das metodologias empregadas, o que torna o rumo das eleições ainda mais nebuloso. Ontem, enquanto na média Romney tinha 47,4% das intenções de voto, e Obama, 47%, as sondagens diárias divergiam. A da Reuters/Ipsos dava o democrata à frente por 46% a 43%, enquanto o Gallup apontava o republicano com 50% a 46%.

Para o estrategista republicano Ed Goeas, a virada nos números deixa Romney muito próximo de repetir o feito de Ronald Reagan contra o então presidente Jimmy Carter:

- A campanha parece muito com a de 1980. Um governador e líder empresarial que sofre meses com distorções e ataques sobre seu histórico usa os debates para demonstrar que tem credibilidade como alternativa a políticas econômica e externa falidas de um presidente que prometeu mudar Washington e não cumpriu.