Título: O fim da Faixa de Gaza
Autor: Costa, Ana Cláudia; Moura, Athos; Ramalho, Ségio
Fonte: O Globo, 15/10/2012, Rio, p. 6

Forças de segurança ocupam favelas de Manguinhos e do Jacarezinho para instalação de UPPs

Em apenas dez minutos, forças de segurança retomaram ontem o Complexo de Manguinhos e a Favela do Jacarezinho, dois dos territórios mais violentos controlados pelo tráfico. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que conversou com a tropa antes da ocupação, ainda de madrugada, disse que a cidade não terá mais uma "Faixa de Gaza", como era conhecida aquela região, devido aos ataques de bandidos. Segundo ele, ali serão instaladas duas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) até o fim de janeiro.

- Ocupamos a região em tempo recorde, sobretudo, com vidas preservadas. Quero agradecer a todos os envolvidos na ação que devolveu à população esse território. Agora, não teremos mais uma "Faixa de Gaza" na cidade. É o fim da "Faixa de Gaza" e um novo começo para a população - disse Beltrame, que fez um apelo aos moradores das favelas para que colaborem, denunciando a localização de bandidos e depósitos de armas e drogas.

A bordo de seis veículos blindados da Marinha, parte da tropa entrou em Manguinhos (onde ficam as favelas de Manguinhos, Mandela e Varginha) às 4h56m. Os tanques derrubaram barreiras erguidas pelo tráfico. Cerca de 150 policiais civis, com o apoio de um helicóptero blindado, ocuparam o Jacarezinho. Na chegada, seis tiros foram disparados, provavelmente por bandidos. Uma pessoa foi ferida por estilhaços.

A ação foi notícia ontem de sites de jornais internacionais. Beltrame ressaltou que a PM ocupará Manguinhos, Varginha e Mandela até a implantação da UPP, em dezembro. Ele afirmou que a Polícia Civil ficará no Jacarezinho até 8h de terça-feira. Depois, policiais civis e militares realizarão ações sistemáticas na comunidade, que ganhará uma UPP até o fim de janeiro. Um efetivo de pelo menos 400 homens vai atuar, diariamente, nos dois locais. Manguinhos apresenta o quinto pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade, seguido pelo Jacarezinho, em sexto.

Próxima ocupação deve ser da Maré

Beltrame evitou antecipar onde será a próxima ocupação, mas disse que basta fazer uma parábola, sinalizando para o Complexo da Maré. Composto por 16 comunidades, o complexo fica entre a Avenida Brasil e as linhas Vermelha e Amarela, vias de acessos ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador.

Por volta das 10h30m, representantes das polícias Civil e Militar, da Polícia Rodoviária Federal, da Marinha e da Defensoria Pública hastearam as bandeiras do Brasil e do estado na localidade conhecida como Praça do Meio, na favela de Manguinhos. Com a comunidade tomada por policiais, moradores começaram a se aproximar. O quadriciclo do Bope virou atração entre as crianças da favela.

Para a ação, foram mobilizados dois mil homens. Seis tanques de guerra e quatro helicópteros das polícias Civil e Militar deram apoio às equipes que entraram nas favelas por terra. Segundo o comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), coronel René Alonso, a polícia infiltrou equipes nas comunidades um dia antes da ocupação. Ontem, munidos de mapas e fotografias, os policiais entraram pelos principais acessos de Manguinhos e Mandela.

Para ocupar as quatro comunidades, o trânsito nas avenidas Dom Helder Câmara, Leopoldo Bulhões e dos Democráticos foi fechado por volta da meia-noite de anteontem. Em Manguinhos, equipes do Bope usaram explosivos para retirar uma barreira de concreto feita por traficantes. Segundo o relações públicas do Bope, major Ivan Blaz, uma barreira havia sido destruída pelo Bope no mesmo local, há um mês.

Na favela do Mandela, policiais do Batalhão de Choque encontraram, num barraco abandonado, uma espécie de enfermaria do tráfico. No local, foram achados materiais cirúrgicos, próteses e balões de oxigênio. No barraco, PMs recolheram ainda drogas, uma submetralhadora e um fuzil.

No Jacarezinho, policiais apreenderam dez quilos de pasta de cocaína dentro de uma casa. Também no Jacarezinho, a polícia encontrou um local que funcionava como uma espécie de tribunal do tráfico. Segundo o delegado Marcus Vinícius Braga, desafetos dos traficantes eram levados para o local, mortos e jogados em um valão. Na região, a polícia achou ossadas.

Com as favelas tomadas por policiais, o comércio abriu normalmente. Moradora de Manguinhos, Lúcia Santos disse que a presença da polícia vai melhorar a vida dos moradores. Sem querer se identificar, um morador do Jacarezinho comemorou:

- Agora teremos tranquilidade, e eu não serei obrigado a escutar um baile funk que atravessa a madrugada.

Durante a ocupação, quatro pessoas foram presas. Forma apreendidos quatro veículos e 19 caça-níqueis.