Título: Fim do almoço grátis
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 15/10/2012, Economia, p. 16

Mas muitos administradores de fundos ainda acreditam em uma "recaída", contando com a volta dos juros altos

A era dos juros reais estratosféricos, do "almoço grátis", como se diz na intimidade do mercado financeiro, parece mesmo que ficou para trás, mas muitos gestores de investimentos não querem se dar conta disso ou continuam a acreditar em uma "recaída", com a economia brasileira voltando a esse passado inglório. Vários fundos de pensão fechados ainda têm elevado número de participantes com previsão de recebimento de um benefício definido na aposentadoria. Para honrar esses compromissos, os fundos precisam que suas aplicações obtenham um retorno muito acima da inflação, de 5% a 6% ao ano.

Por anos a fio não foi necessário qualquer esforço para se atingir tais metas, graças às taxas excessivamente altas oferecidas como rendimentos ao mercado pelos títulos do Tesouro. Essa anomalia dificultou o surgimento de um grande mercado secundário para títulos de crédito privado de médio e longo prazos, que hoje fazem falta nas carteiras dos fundos de investimentos. O Tesouro teve o cuidado de emitir poucos papéis de longa maturação com tamanha remuneração. Sem essa retaguarda na captação de recursos, os bancos brasileiros não se habituaram a conceder créditos de longo prazo, com exceção de repasses do BNDES (que por essa razão permanece praticamente como única fonte de financiamento em reais para investimentos de longo prazo no país) e do crédito imobiliário, cujos recursos são carimbados: 65% do que é captado por meio das cadernetas de poupança devem se destinar necessariamente a empréstimos à construção ou compra da casa própria.

Na busca de retornos de capitais mais polpudos, vem crescendo no Brasil o mercado de fundos que investem em quotas de outros fundos especializados em farejar bons negócios. Alguns deles são formados por poucos grandes investidores que compram participações ou até o controle de empresas de capital fechado. Os chamados fundos de "private equity" estão se multiplicando no país (geralmente em parceria com fundos estrangeiros) e terão cada vez mais importância daqui para a frente. Um exemplo é o HIG Capital, que se associou no Brasil a um executivo brasileiro do ramo e já até comprou uma rede de cursos de idiomas em São Paulo.

O impacto da redução das taxas de juros sobre os fundos de previdência, especialmente, merece ser mais discutido. O economista Claudio Contador, diretor acadêmico da Escola Superior Nacional de Seguros, está organizando uma mesa redonda, em São Paulo, no dia 31 de outubro, com esse objetivo. Contará com a participação de representantes do mercado segurador e da agência reguladora dos fundos de previdência complementar (Previc).

Consumo de cimento cresce menos

O consumo de cimento é um bom termômetro da economia. Para se ter uma ideia, a Espanha, que na fase áurea dos investimentos em infraestrutura e antes da formação da "bolha" imobiliária chegou a consumir quase 60 milhões de toneladas anuais (para uma população de 38 milhões de habitantes), agora não utiliza mais que 15 milhões de toneladas. E no ano que vem a previsão é que esse volume se reduza para 12 milhões de toneladas.

Aqui no Brasil, o consumo vem se mantendo acima de 68 milhões de toneladas anuais, mas o ritmo de crescimento tem caído, trimestre a trimestre. O consumo começou o ano com um ritmo de expansão de 8% e fechou o terceiro trimestre em 3,5%, embora diversos indicadores já venham retratando uma recuperação da economia brasileira.

Estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas por encomenda do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento mostrou que os investimentos em infraestrutura respondem por um quarto do consumo do produto no país. Essa percentagem é ligeiramente maior nas regiões Sudeste e Nordeste, e menor no Centro-Oeste. A construção de residências absorve cerca de 60% do consumo de cimento (e a de imóveis comerciais, acrescido pelo que é usado pelas indústrias, fica com o restante). O consumidor domiciliar representa 18% do mercado. No Nordeste, esse índice chega a 25%.

O consumo formiga está igualmente distribuído entre as diferentes faixas de renda no Brasil. Os domicílios com renda inferior a três salários mínimos consomem tanto quanto os da faixa acima de dez mínimos.

Carros de aluguel e férias

A maior parte das receitas das empresas de aluguel de carros no Brasil vem da terceirização de frotas. O aluguel para turistas se concentra nos próprios brasileiros, mas esse quadro pode começar a mudar na Copa do Mundo de 2014. A propósito, saio de férias por uma semana.