Título: Embraer aposta pesado na ousadia
Autor: Godoy, Roberto
Fonte: O Globo, 15/10/2012, Desafios Brasileiros, p. 11
Com nova família de aeronaves, empresa vai investir, em 2012, US$ 450 milhões em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias
A nova família de aeronaves da Embraer, o maior e mais bem defendido segredo estratégico da empresa, pode já estar voando - dentro de uma sala grande e escura na fábrica de São José dos Campos, onde engenheiros cobrem o rosto com grandes óculos com capacidade tridimensional, não gostam de dizer seus nomes, e veem coisas que, a rigor, ainda não existem: o grupo de novos jatos, por exemplo.
O Centro de Realidade Virtual (CRV) é uma ferramenta moderna, sim, mas é também um recurso fundamental no processo de viabilização das ações ousadas da companhia. Em uso desde o ano 2000, o CRV é empregado intensamente. Com ele, a Embraer completou o desenvolvimento do modelo EMB-170 em 38 meses. Antes disso, o ciclo da engenharia do birreator Emb-145 consumiu 60 meses utilizando os procedimentos convencionais.
Os resultados são bem consistentes. Até 30 de junho, a carteira de pedidos firmes a entregar batia em US$ 12,9 bilhões, considerada apenas a aviação comercial, uma frota de 200 unidades.
A Embraer credita à inovação o fator determinante no seu posicionamento competitivo. "Essas verdades ganham dimensões especiais na indústria aeronáutica, em que inovação e desenvolvimento tecnológico são as questões da sobrevivência, e não apenas de diferenciação competitiva", posição da companhia revelada em nota formal da diretoria.
Para a empresa, Competir é inovar
A política de aplicação de novidades, definida pelo presidente, Frederico Curado, ocorre em quatro dimensões transversais à cadeia de valor: inovações de produtos e serviço; inovações dos processos; inovação de marketing; e inovações empresariais.
A mais recente ousadia do grupo está na área militar. Como reflexo do desenvolvimento do cargueiro e reabastecedor de combustível, o KC-390, a empresa criou uma coligada dedicada, a Embraer Defesa e Segurança (EDS) que nasceu rica, dona de uma fábrica em Gavião Peixoto, a 300 km de São Paulo, e da maior pista de decolagem e pouso da América Latina, cinco mil metros de asfalto cercados de monitores e sensores eletrônicos.
É lá que é produzido o A-29 Super Tucano um sucesso em sete países clientes por causa da inovação: o sistema digital embarcado equivale ao dos caças pesados supersônicos, mas o avião é um turboélice e de custo reduzido. Uma hora de voo do Super Tucano, sai por R$ 1.500, praticamente a sexta parte do que custa num moderno jato de combate.
O A-29 é o único turboélice do mundo configurado para missão de contrainsurgência. Provado em combate usando cenários semelhantes ao da floresta colombiana, ele está disputando na pole position, o grande prêmio da escolha, no Departamento de Defesa dos Estados Unidos, de uma série de 20 aeronaves de ataque leve para forças do Afeganistão. Esse contrato está sendo avaliado em cerca de US$ 355 milhões. Tem mais, conta com boas possibilidades de servir na aviação americana. Nesse caso, o negócio poderá chegar a US$ 1 bilhão.
O KC-390 é o único jato de sua classe oferecido atualmente no mercado mundial. Segundo o presidente da EDS, Luiz Aguiar, o segmento representa 700 cargueiros médios a serem encomendados até 2025, uma conta que pode chegar a US$ 50 bilhões. O KC-390 leva o equivalente a 20 toneladas de carga, tropa equipada e blindados. Cerca de 60 deles estão na carteira internacional de pedidos. O primeiro voo real está previsto para 2014.