Título: Produção industrial avança 1,5% em agosto, na maior alta em 15 meses
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 03/10/2012, Economia, p. 29

Setor de bens duráveis, beneficiado por IPI menor, acumula ganho de 9,4% em 3 meses

RIO, BRASÍLIA e são paulo O crescimento da indústria brasileira se estendeu em agosto. Segundo o IBGE, 20 dos 27 setores industriais tiveram alta frente ao mês anterior, resultado mais abrangente do que o registrado em julho e junho. Além disso, a elevação foi mais expressiva: na comparação com julho, a produção industrial cresceu 1,5%, a maior alta em 15 meses - em maio de 2011, a indústria avançou 1,6%.

O resultado da indústria, porém, veio abaixo das expectativas do mercado, que eram de 2%. Com a alta de agosto, nos últimos três meses a produção industrial apresenta alta de 2,3%, contra um queda de 1,8% acumulada no trimestre anterior.

Apesar disso, a produção industrial de agosto foi 2% inferior à registrada no mesmo mês de 2011, completando o 12º mês negativo nessa comparação. No ano, acumula queda de 3,4%, e, nos últimos 12 meses, de 2,9%, o pior resultado para esse tipo de comparação desde janeiro de 2010, quando o recuo foi de 5%.

Mas André Luiz Macedo, responsável pela pesquisa no IBGE, afirma que o resultado de agosto frente a julho mostra uma evolução muito mais consistente que a registrada nos meses anteriores:

- Desta vez, vemos alta de todas as categorias de uso da indústria e de 20 dos 27 ramos pesquisados, ao contrário do que ocorreu em junho e julho, quando a análise dos setores mostrava um predomínio de resultados negativos. Isso é um crescimento mais consistente, embora a produção industrial ainda esteja em nível inferior ao registrado no ano passado.

Ele afirma ainda, que apesar de a alta da produção estar disseminada, os bens de consumo duráveis puxam o avanço.

Crise afeta minério de ferro

A evolução dos bens duráveis nos últimos três meses é de 9,4% e, neste segmento, que representa cerca de 10% da produção industrial nacional, estão automóveis, eletrodomésticos (linha branca) e móveis, beneficiados com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) promovida pelo governo. Já a indústria em geral apresenta alta de 2,3% nos últimos três meses, e os bens de capital, termômetro dos investimetnos feitos pelos diferentes setores da economia, subiram 2,5%.

- O crescimento da produção foi muito baseado em bens de consumo duráveis. Não por acaso eles foram os beneficiados pela redução de IPI - disse Macedo, lembrando que a produção de veículos automotores cresceu 3,3% em agosto.

Mas ele ressaltou que os grandes problemas da indústria este ano - estoques acima do ideal, concorrência de importados e dificuldades para a exportação - continuam afetando o setor. Macedo citou como exemplo o minério de ferro, setor prejudicado pela desaceleração global, que cresceu apenas 0,1% em agosto frente a julho, acumulando retração de 2,9% nos últimos 12 meses.

cOPOM PODERÁ CORTAR JUROS

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que os dados da produção industrial mostram o gradual aquecimento da economia.

- A indústria vem de um primeiro semestre fraco. Porém, já está dando sinais de reação - afirmou o ministro. - Deixamos para trás o período de crescimento fraco. Agora, o crescimento começa a acelerar e vai nessa direção até o fim do ano.

Perguntado sobre o fato de crescimento da indústria ter vindo abaixo do esperado, Mantega disse que o resultado é "bom" e que deverá se manter nos próximos meses.

O resultado da indústria em agosto, abaixo das projeções do mercado, reforçou a aposta de alguns bancos e consultorias de uma nova queda da taxa básica (Selic) na reunião do Comitê de Política Monetárias (Copom) do Banco Central (BC) na próxima semana. Reflexo dessa perspectiva, os contratos de juro futuro negociados ontem na BM&F Bovespa com vencimento em janeiro de 2013 (os mais negociados) recuaram e fecharam o dia apontando para uma queda de 0,25 ponto percentual na taxa Selic. Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco WestLB, observa que, embora o mercado ainda esteja dividido em relação à decisão do Copom, a perspectiva de novo corte ganhou mais peso.