Título: Dilma acusa negociadores de inoperância na questão palestina
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 03/10/2012, O Mundo, p. 36

Presidente critica Quarteto formado por EUA, ONU, Rússia e UE

Enviada Especial

Show. A presidente Dilma Rousseff e outros participantes da cúpula assistem a uma apresentação de dança peruana

Ernesto Benavides/AFP

LIMA No discurso de abertura da Cúpula América do Sul - Países Árabes (Aspa), a presidente Dilma Rousseff condenou os ataques às representações diplomáticas dos Estados Unidos e de países aliados em protesto contra um polêmico filme anti-Islã. Em dez minutos de fala, Dilma defendeu a busca da paz no Oriente Médio pelos próprios países da região e criticou a ação do Quarteto (Estados Unidos, Rússia, União Europeia e ONU) na mediação entre Israel e Palestina.

- É importante que outros eventos no Oriente Médio não nos façam esquecer a questão de Israel e Palestina. O reconhecimento do Estado palestino pela ONU no contexto da solução dos dois Estados é a única alternativa para a paz na região. O Conselho de Segurança da ONU não pode abdicar de suas atribuições e transferi-las para um quarteto inoperante - afirmou Dilma.

ACUSAÇÕES AO GOVERNO SÍRIO

A presidente condenou a intolerância religiosa, exibida nas últimas semanas em ataques às representações dos EUA e aliados, por causa do filme anti-Islã produzido naquele país, mas também repudiou manifestações contra o Islã.

- Repudiamos todas as formas de intolerância religiosa e, diante dos acontecimentos das últimas semanas, reafirmamos nossa condenação veemente de todas as manifestações de islamofobia e, com a mesma veemência, afirmamos nosso repúdio aos atos recentes de violência e terrorismo praticados contra os Estados Unidos, Alemanha e outros países - disse a presidente.

Dilma também condenou ações militares de outros países no Oriente Médio:

- Preocupa também a crescente retórica em prol de ação militar unilateral contra as instalações no Irã. Qualquer iniciativa desse tipo constituirá violação da carta da ONU, desestabilizará ainda mais o Oriente Médio e atingirá sua população, com gravíssimas consequências para a Humanidade.

Para a presidente, as transformações políticas por que passam os países árabes "merecem especial atenção". Dilma afirmou que as manifestações populares mostram o desejo de participação política, desenvolvimento e justiça social, movimento semelhante ao vivido recentemente na América Latina. Porém, a presidente disse que algumas situações causam preocupação, citando a situação da Síria.

- A maior responsabilidade pelo ciclo de violência recai sobre o governo de Damasco, vitimando sobretudo mulheres, crianças e jovens. Mas sabemos também da responsabilidade das oposições armadas, especialmente daquelas que contam com apoio militar e logístico estrangeiro - disse a presidente.

Ela manteve o discurso de que uma solução negociada é o único caminho para a paz:

- O Brasil tem apoiado os esforços da ONU e da Liga Árabe em favor de uma solução negociada para o conflito, a única solução possível. Esperamos que todos os envolvidos aceitem o caminho do diálogo, que é o caminho da paz na região - complementou.

A presidente também se referiu aos problemas internos da Líbia e do Iraque, dizendo que os conflitos são "agravados pela intervenção externa" que esses países sofreram:

- A solução para os problemas enfrentados pelos países árabes só poderá ser encontrada por eles próprios - ressaltou. - Queremos contribuir para a reconstrução desses países e para o desenvolvimento econômico e social, mas sabemos que o caminho desses países passa por eles.