Título: O Brasil precisa agir
Autor: El-Banna, Hany
Fonte: O Globo, 13/10/2012, Opinião, p. 17

A Síria foi tomada por um cenário trágico nos últimos dois meses, com relatos de milhares de pessoas mortas, incontáveis feridos e mais de 100.000 cidadãos fugindo do país. Na última quarta-feira, cerca de 343 pessoas foram mortas em confronto, sendo considerado o dia mais sangrento durante a crise. De acordo com anúncio da ONU, 2 mil a 3 mil pessoas saem do país todos os dias. Desde o início da repressão, mais de 10% da população foram forçados a deixar suas casas. Mais de 250 mil sírios - incluindo crianças desacompanhadas - tornaram-se refugiados em acampamentos de países próximos, como Jordânia, Turquia, Líbano e outros.

Para a grande maioria dos sírios, o dia a dia no país é caracterizado pelo sofrimento contínuo: elas tentam fugir da violência e enfrentam a falta de abrigo, o aumento drástico no preço dos alimentos e a falta de acesso ao saneamento básico. Instalações médicas se desintegram e muitos civis apanhados pelo conflito estão morrendo por falta de cuidados adequados.

Clínicas são destruídas ou ocupadas por grupos armados, suprimentos médicos negados e o tratamento para pacientes com condições crônicas são interrompidos. Os sírios estão lutando com o trauma do que viram e viveram: massacres, bombardeios aéreos e a perda de entes queridos.

É iminente uma crise de alimentos no país. Agências de auxílio têm destacado que a resposta humanitária existente na Síria é insuficiente: a Cruz Vermelha da Síria não tem capacidade ou logística necessárias para atender aos sírios deslocados.

Por mais de 18 meses, enquanto a violência na Síria piorava, a comunidade internacional continuava dividida enquanto os governos se acusam de serem motivados apenas por sentimentos pró ou antirregime. Isto levou a um impasse político e ao aumento dos conflitos armados, fazendo dos cidadãos sírios os maiores prejudicados. O principal objetivo no momento é convencer o governo sírio a parar com os ataques pelo país e estabelecer um cessar-fogo, acabando com a violência de ambos os lados. Entretanto, se fosse permitido o acesso de organizações humanitárias internacionais imparciais, suas habilidades poderiam reduzir significativamente o sofrimento de milhares.

O Brasil tem a influência e capacidade para agir como intermediário, e deve liderar os esforços para pressionar o governo da Síria a liberar as restrições contra as organizações humanitárias independentes que podem ajudar a aliviar a situação do país. Esta decisão iria sinalizar que a comunidade internacional não aceita que outras milhares de pessoas na Síria se tornem reféns do entrave político atual. Com o inverno rigoroso sírio se aproximando, a situação humanitária irá piorar se nenhuma ação for tomada imediatamente.

É hora de mostrar ao povo da Síria que a comunidade internacional não é simplesmente um espectador de sua tragédia. O acesso humanitário à Síria, seguro, livre e sustentado, deve ser encarado pelo Brasil não como uma escolha política, mas como uma responsabilidade moral.