Título: Mantega: ricos estão às custas dos emergentes
Autor: Sarmento, Claudia
Fonte: O Globo, 13/10/2012, Economia, p. 20

Guerra cambial vai agravar economia mudial, diz ministro

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu mais um duro recado endereçado a economias desenvolvidas, como EUA, Japão e nações da zona do euro. Em discurso feito na manhã de hoje (hora local) em Tóquio, durante a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, ele reforçou as críticas que o governo brasileiro vem fazendo contra políticas monetárias expansionistas, avisando que o Brasil fará o que for necessário para se proteger. O ministro afirmou que "as economias avançadas não podem exportar a sua maneira de sair da crise às custas dos mercados emergentes".

Mantega voltou a usar o termo guerra cambial para se referir às consequências dos programas de injeção de liquidez por parte de bancos centrais de países ricos. O Brasil sustenta que a política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central americano) desvaloriza o dólar e leva outras economias a seguirem o mesmo caminho, o que prejudica a competitividade brasileira. Para o ministro, que falou ao Comitê Monetário e Financeiro do FMI, as guerras cambiais agravarão as dificuldades da economia mundial.

- Os países avançados devem repensar as suas estratégias macroeconômicas e evitar simultâneas contrações fiscais e a consequente sobrecarga da política monetária. Economias emergentes e mercados em desenvolvimento não podem suportar passivamente as repercussões das políticas dos países avançados através de grandes e voláteis fluxos de capital e movimentação cambial. Todas as formas de comércio e manipulação da moeda devem ser evitadas porque elas melhoram a competitividade internacional de forma espúria.

O ministro voltou a negar, como tem feito a presidente Dilma Rousseff, as acusações de que o Brasil esteja adotando políticas protecionistas:

- O Brasil tomará todas as medidas que considerar necessárias para evitar esses efeitos. Não podemos aceitar a tentativa de rotular injustamente como "protecionistas" as medidas legítimas de defesa nas áreas de comércio exterior, taxa de câmbio e gerenciamento de capitais.

As reclamações de Mantega se estenderam a uma outra questão: a reforma do FMI. Ele lamentou o fato de as mudanças no sistema de cotas do Fundo, que dá mais poder aos países emergentes, não ter sido implementada em Tóquio, como fora acertado. A reforma foi aprovada em 2010, mas precisa da ratificação dos EUA, adiada por causa das eleições.

- A resistência às reformas mina os esforços para transformar o FMI em um organismo verdadeiramente multilateral. Se o déficit de legitimidade não for resolvido, a instituição pode voltar ao caminho da relevância reduzida que experimentou antes da crise de 2008.

Poder atrelado ao PIB

O Brasil defende ainda que o poder de cada membro do Fundo seja baseado no tamanho do PIB. Há países menores, porém, que querem ainda outros critérios, como o grau de abertura das economias.

- Qualquer tentativa de recuar ou reinterpretar os compromissos, arrisca danificar irreversivelmente a credibilidade dos países que renegam suas promessas, bem como a do G-20 e do FMI -afirmou.