Título: Brasil pode ter que elevar juros para crescer, alerta FMI
Autor: Sarmento, Claudia
Fonte: O Globo, 13/10/2012, Economia, p. 20

Fundo aposta em retomada em 2013, com avanço do PIB a 4% e inflação de 5,1%, fora da meta

O Brasil pode ter de elevar sua taxa de juros para conter expectativas de inflação à medida que o crescimento econômico for retomado, disse o Fundo Monetário Internacional (FMI) ontem em seu mais recente relatório regional sobre a América Latina. O FMI espera que o crescimento se recupere em 2013 e atinja 4%, ao passo que prevê que a inflação ficará em 5,1% no ano que vem, acima do centro da meta, de 4,5%.

"À medida que se fortalece a recuperação, pode ser necessário descartar estímulos para reduzir mais firmemente expectativas de inflação em alguns países (por exemplo, Brasil e Uruguai)", informou o relatório do FMI.

- O importante é monitorar todo tipo de indicadores para controlar a pressão inflacionária - disse o diretor do Fundo responsável pelo Hemisfério Ocidental, Saul Lizondo.

para Fundo, país vai decolar

Lizondo derrubou a tese de que o crescimento da economia brasileira seja comparável ao "voo da galinha", como já disse a imprensa internacional, ou seja, um crescimento curto e não sustentável. O Fundo acha que o país vai decolar:

- O que houve no Brasil foi um aperto monetário para conter a inflação e isso provocou uma desaceleração, mas as medidas de relaxamento promovidas pelas autoridades permitirão a volta a um patamar de 4% de crescimento.

forte potencial para crescer

O Banco Central (BC) cortou a taxa básica de juros (Selic) para a mínima histórica de 7,25% na quarta-feira, e analistas e autoridades estão divididos sobre se será necessário elevá-la no ano que vem.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que não será preciso aumentar os juros, mas uma autoridade do BC disse que não hesitaria em elevá-los caso a inflação superasse o teto da meta, de 6,5%.

A inflação foi de 5,28% em setembro, e as projeções de juros sugerem que investidores esperam uma alta de 0,5 ponto percentual na taxa em julho de 2013. O vizinho Uruguai aumentou sua taxa de juros para 9% no mês passado.

O último prognóstico do FMI para a América Latina e o Caribe cortou a projeção de crescimento da região em 2012 para 3,2%, citando como causas a queda dos preços de matérias-primas e a diminuição da demanda global, que afetou principalmente o Brasil.

Miguel Savastano, subdiretor Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, sustentou que o débil crescimento do Brasil em 2011, de só 2,7%, frente a 3,9% do México, não era uma preocupação, já que seu potencial continua forte:

- Se remontarmos a dez anos atrás, quando ambas as economias começaram a ter inflação baixa e crescimento estável, o Brasil cresceu 4,5% (em média), enquanto o México, 3,5%. A curto prazo, a situação cíclica do México é melhor que a do Brasil, mas, a médio prazo, isso se inverte.

A situação da economia brasileira foi o tema mais citado na apresentação do relatório do FMI. A mensagem sobre o Brasil é, em geral, otimista. Mas o Fundo adverte que o país precisa se manter alerta.