Título: Eu esperava por isso há muito tempo, diz Duda
Autor: Talento, Biaggio; Sassine, Vinicius
Fonte: O Globo, 18/10/2012, País, p. 6

Publicitário absolvido pelo Supremo diz que "a justiça se fez" e avisa que continuará trabalhando em campanhas políticas

O publicitário baiano Duda Mendonça disse ontem estar aliviado com sua absolvição no julgamento do mensalão.

- Eu esperava por isso há muito tempo. A justiça se fez. A família está muito aliviada. Passou esses anos todos apreensiva - afirmou.

A mudança nos votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, que passaram a condenar Duda e sua sócia, Zilmar Fernandes, por evasão de divisas, não alterou o humor de Duda:

- É normal a mudança no voto. Cada um tem direito a ter sua própria interpretação. Não quero julgar isso, quero olhar para frente. O importante é que futucaram minha vida inteira, minhas empresas, minhas contas bancárias e não acharam nada. Fui absolvido por ampla maioria.

Duda evitou fazer qualquer comentário sobre o processo. Ao ser perguntado sobre a origem dos recursos que recebeu como pagamento, disse que não comentaria "detalhes técnicos", o que, segundo ele, é uma atribuição de seus advogados, Luciano Feldens e Antonio Carlos Castro, o Kakay. Duda desmentiu os boatos de que realizaria uma grande festa para comemorar sua absolvição.

- Sábado é aniversário da minha sócia, Zilmar Fernandes. Ela vem aqui em casa almoçar comigo e com a minha família.

O publicitário disse que, nos últimos sete anos, desde que o escândalo do mensalão surgiu, teve prejuízos financeiros. Afirmou que perdeu clientes.

- As pessoas diziam que eu era um cara competente, mas queriam esperar. Agora é hora de arrumar tudo e pensar no que fazer. Espero reconquistar meu lugar - disse Duda, frisando que não vai desistir das campanhas eleitorais. - Não tenho receio de nada, não fiz nada errado.

dois ministros mudaram o voto

Ontem, os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa alteraram os votos relativos à acusação de evasão de divisas atribuída a Duda e Zilmar. Na segunda-feira, os dois votaram pela absolvição. Ontem, pediram a condenação dos dois réus. Mesmo com a mudança, Duda e Zilmar continuam absolvidos, agora por 7 a 3 - o ministro Marco Aurélio de Mello já havia votado pela condenação na segunda-feira.

- Eu não me lembro de uma retificação de voto neste julgamento. Mas isso não é nada estranhável - disse o presidente do STF, Ayres Britto, no intervalo da sessão de ontem.

Para ele, os ministros "podem refluir de uma decisão" ao fim do julgamento. Na análise dos capítulos da denúncia, os votos são proferidos, mas a proclamação do resultado só será feita no final, previsto para a próxima semana. Até lá, os ministros podem voltar atrás numa decisão.

Duda abriu uma conta bancária no exterior para receber R$ 10,4 milhões, como pagamento por serviços prestados na campanha do ex-presidente Lula à Presidência, em 2002.

Ontem, Gilmar disse que, segunda-feira, voltou a seu gabinete "incomodado" e se obrigou a rever os autos". Frisou que o pagamento depositado na conta no exterior era proveniente da empresa de Marcos Valério, o operador do mensalão, e "não era limpo nem lícito". O relator acompanhou Gilmar e disse que deixara seu voto "em aberto" para que o plenário decidisse sobre a evasão de divisas. Ontem, deixou clara sua posição pela condenação de Duda e Zilmar.

A dupla, porém, sai do processo do mensalão sem condenações. O item oito da denúncia, que trata da evasão de divisas, resultou em cinco condenações: Marcos Valério; seu ex-sócio Ramon Hollerbach; a ex-diretora de sua agência Simone Vasconcelos; e os ex-dirigentes do Banco Rural Kátia Rabello e José Roberto Salgado.