Título: Nasce um novo tipo de família: a mosaico
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 18/10/2012, Economia, p. 33

Pela primeira vez, entram nas estatísticas do IBGE lares que se constituíram após uniões anteriores

O aumento do número de divórcios e recasamentos provocaram a criação de um tipo de família que vem ganhando espaço na sociedade brasileira. São lares que nasceram de segundas e terceiras uniões, onde há filhos só do pai ou só da mãe, e de ambos. São chamados de famílias reconstituídas, ou mosaicos, ou recompostas, já presentes em 16,3% dos lares de casais com filhos. Pela primeira vez, esse tipo de família entra nas estatísticas do IBGE, que identificou 4,446 milhões de lares nessa situação. Em 1,9 milhão, são do tipo "os meus, os seus e os nossos".

- É uma novidade no Censo. Uma nova configuração familiar de pessoas que já viveram uniões anteriores. O Brasil ainda não tinha esse dado.

Núbia Régia Barros Gonçalves está na segunda união. Luiz Tadeu Gonçalves, na terceira. Com eles, vive Luiza, 14 anos, filha apenas de Núbia, de uma união de sete anos. Gonçalves tem mais três filhos, que não moram com ele: uma de 32 anos e outro de 30, ambos do primeiro casamento, e uma de 24 anos, de uma segunda união estável. E a família pode crescer. Núbia espera ter mais um filho, dessa vez, do casal:

- Eu gosto da ideia de ter um bebê, mas o Luiz é mais resistente. Por mim, eu teria já nesse primeiro ano de casamento, mas o Luiz prefere esperar para estabilizarmos as contas. Quero voltar a estudar e tentar entrar na área de saúde - diz Núbia, que tem ensino médio técnico e está desempregada.

MAIS CASAIS SEM FILHOS

Para Ana Amélia Camarano, do Ipea, os casamentos duram cada vez menos:

- O casamento não acaba mais com a morte. A vida é agora regulada pela vontade dos indivíduos. Antes, não podia se separar nem ter filhos fora do casamento.

Outros arranjos ganharam espaço. Um dos maiores ganhos foi o de casal sem filhos. Passaram a representar 20,2% dos arranjos em 2010 contra 14,9% em 2000. Outro tipo de família que cresceu foi o de mães sozinhas com filhos: passou de 15,3% para 16,2%.

E já são 6,9 milhões - ou 12,1% do total - de lares onde só mora uma pessoa. Eram 4,1 milhões em 2000. Num movimento tipicamente urbano, a vida sem companhia atrai mais ou menos o mesmo número de homens e mulheres - mas de idades diferentes. As mulheres têm 65 anos (41,5%) e são viúvas (40%). No caso dos homens, apenas 10% são viúvos. A maioria deles tem entre 25 e 59 anos (66,9%) e é solteira.

Nilsa Martins, 73 anos, mora sozinha desde que ficou viúva. Ela, que vive da aposentadoria e da pensão do falecido marido, está satisfeita, mas considera morar com parentes.

- Para quem cresceu em família grande, morar sozinho só tem desvantagens.

O Brasil caminha para um padrão europeu de arranjo familiar. Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), na Europa, a parcela de lares com pessoas morando sozinhas está em 27,7%.