Título: Diversidade brasileira fora dos casamentos
Autor: Duarte, Alessandra; Benevides, Carolina
Fonte: O Globo, 18/10/2012, Economia, p. 34

Maioria vive com cônjuge da mesma raça e escolaridade; entre gays, 47% são católicos

Na última década, o Brasil viu crescer o número de divórcios, dissoluções de casamentos e também das uniões consensuais. Mas, mesmo que o comportamento do brasileiro esteja mudando, na hora de encontrar um parceiro, a busca ainda é por uma pessoa bastante parecida. Segundo dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo IBGE, 68% da população estava unida a um parceiro de mesma instrução - em 2000, era 63% -, e 69%, a alguém da mesma raça ou cor.

- As pessoas buscam se unir com quem tem afinidade física, intelectual e religiosa. Talvez em locais como Rio e São Paulo a mistura seja maior.; existe mais espaço para heterogeneidade do que em cidades pequenas - diz Glaucia Marconde, demógrafa do Núcleo de Estudos de População da Unicamp.

Pesquisador do IBGE, Leonardo Athias lembra que a endogamia, ou casamento dentro do próprio grupo, já foi maior. Nos anos 60, chegava a 88%. No Censo 2000, a média foi de 70%:

- A escolha marital está relacionada a fatores sociais, econômicos e até proximidade. Agora, com a internet, pode ser que haja mudança, com maior acesso a pessoas diferentes.

Antropóloga e professora da UFRJ, Mirian Goldenberg destaca que o crescimento da endogamia quanto ao aspecto da escolaridade estaria relacionado ao aumento da escolaridade das mulheres:

- Homens sempre tenderam a buscar parceiras com menos instrução, de classe social mais baixa, até porque, nos anos 50, 60, por exemplo, quantas mulheres tinham graduação, pós? Mas, como as mulheres estão cada vez mais escolarizadas e com mais renda, passaram a escolher parceiros desse mesmo nível, e isso reforçou essa endogamia que já havia - analisa Mirian. - A endogamia na instrução também reforça a endogamia em relação à cor. Uma pessoa branca com boa escolaridade tende a encontrar no seu trabalho mais pessoas brancas do que negras, população com menor escolaridade no país.

Em todo o país, em dez anos, o número de uniões consensuais cresceu: em 2000, eram 28,6%. Uma década depois, 36,4%. O aumento das opções legítimas de união é uma das principais mudanças pelas quais o país passa, segundo Mirian. Para ela, antes as pessoas moravam juntas, mas eram estigmatizadas:

- Era ser "amasiado". Hoje, o casamento tradicional continua existindo, mas passa a haver número maior de arranjos legítimos alternativos a ele - diz a antropóloga, lembrando a facilitação do divórcio e a união estável.

Após ter casado no civil, em 1978, Cosma dos Santos, moradora de Recife, ficou viúva. Anos depois, com novo parceiro, veio a união consensual:

- Na primeira vez, fiz como manda a lei. Meu segundo marido é separado da mulher, mas até hoje não se desquitou. Mas não quero saber de casamento, não. Estamos bem assim - conta Cosma, que tem uma filha que já teve duas uniões consensuais e também não pretende se casar.

uniões homoafetivas

O Censo 2010 traz pela primeira vez informações sobre uniões homoafetivas. Ao todo, o país tem 0,1% do total das unidades domésticas (58 mil do total) com pessoas que vivem relações homoafetivas. Mais de 25% têm superior completo, e 47,4% declararam ser católicos.

- Esses dados refletem o grupo que se sentiu à vontade para revelar que vivia uma relação homoafetiva - diz o antropólogo Sérgio Carrara, do Centro Latino Americano de Sexualidade e Direitos Humanos da Uerj.

- O fato de uma pessoa se declarar católica não significa que ela segue esses preceitos, mas, em muitos casos, que nasceu numa família com aquela religião - completa Mirian.