Título: Governo é criticado por atrasar concessão de portos e aeroportos
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 18/10/2012, Economia, p. 39

Para oposição, Dilma não quer assumir "privatizações" antes das eleições

Parlamentares da oposição criticaram ontem a decisão do governo de adiar o anúncio do novo modelo de concessões de portos e aeroportos para depois do segundo turno das eleições municipais. Na visão desses políticos, há duas razões para o adiamento: o governo não querer admitir em período eleitoral que aderiu ao modelo de privatização e o atraso na elaboração das novas regras.

- É um governo atrapalhado, atrasado e inseguro. Sabe que não tem competência financeira para resolver os problemas e que terá de ser privatista. E tem vergonha de assumir uma campanha privatista nesse momento, porque demonizou a privatização nas eleições passadas - disse o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).

Também para o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), o governo tem dificuldade para assumir a privatização:

- Há um viés ideológico. Não querem reconhecer que o governo estava errado. Há uma falência financeira e ideológica, porque se dobraram ao processo de privatização. O governo está sendo flagrado de calças curtas para a Copa.

RECLAMAÇÕES até de ALIADOS

Até governistas criticaram a demora na adoção de um novo modelo para a concessão de portos e aeroportos. Aliado da presidente Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), disse que o sinal amarelo está aceso. Há consenso de que a lentidão nas obras pode prejudicar a Copa e as Olimpíadas. Ele negou, porém, que o atraso no anúncio do novo modelo tenha relação com as eleições.

- Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O governo está fechando detalhes, ações. Esse é um setor fundamental para o crescimento e o desenvolvimento do país, para a realização da Copa e das Olimpíadas. Em alguma medida, estamos preocupados porque há três pilares para a Copa: estádios, aeroportos e infraestrutura de serviços. Nesse momento, não conseguimos enxergar uma mobilização por parte dos envolvidos, inclusive da iniciativa privada, para dar respostas. A luz amarela está acesa - disse Maia.

Interlocutores do Palácio do Planalto dizem, nos bastidores, que o modelo pretendido por Dilma, no caso dos aeroportos com forte papel para a Infraero, não atraiu parceiros internacionais como queria o governo. Os investidores privados querem o controle das operações, mas o modelo prevê presença do governo e transferência de tecnologia e medidas de gestão de qualidade do setor privado para o público.

- Nenhum empresário vai entrar para ser sócio do governo. Eles vão se curvar ao modelo de privatização do nosso governo (FHC), mas não querem assumir isso no segundo turno - disse o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).