Título: Obama volta a ser Obama
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 18/10/2012, Mundo, p. 41

Presidente sai do 2º debate com apoio fortalecido de mulheres, latinos e trabalhadores

WASHINGTON A combativa performance do presidente Barack Obama no segundo debate com o ex-governador Mitt Romney, no qual foi apontado vencedor em pesquisas com o público e por analistas, deverá estancar a sangria da candidatura à reeleição, mas a corrida continuará apertada até as eleições de 6 de novembro. Embora seu desempenho não tenha sido percebido como suficiente para uma virada de jogo, Obama deverá receber um impulso por ter deixado o palco da universidade de Hofstra com trunfos junto a três fatias do eleitorado com o qual conta para vencer a disputa: mulheres, latinos e a classe média trabalhadora dos estados industriais, como o decisivo Ohio, Wisconsin e Michigan, nos quais desabou nas sondagens desde o primeiro confronto, duas semanas atrás.

Os democratas confiam que o desempenho de Obama animou a base, ajudando no ponto que definirá as eleições, o comparecimento às urnas. Além disso, institutos como o Gallup apontam que as mulheres nos principais estados em disputa - maior parte dos indecisos - têm grande preocupação com temas sociais, que o presidente soube explorar no debate. O estrategista sênior David Plouffe apontou ainda que Romney está escondendo seus planos e mudando de opinião em temas como política para mulheres, imigração e imposto.

- O que aconteceu no debate foi que, em vários assuntos, o governador Romney foi pego, se viu exposto. Acho que o presidente está se sentindo realmente incrível com sua performance - afirmou Plouffe, que manteve a avaliação de que a disputa será apertada até o fim da corrida.

Contidos na comparação com o primeiro debate, os assessores republicanos rechaçaram a ideia de que Obama foi o vencedor e de que o confronto terá efeito grande sobre o eleitorado.

- O governador foi palmo a palmo com o presidente. Não acho que os eleitores indecisos assistindo ao debate gostaram do jeito como o presidente atacou seu desafiante - ponderou Kevin Madden, da equipe de Romney.

"fichários cheios de mulheres"

Um momento marcante de confronto no debate foi sobre política para mulheres. Ciente de que Romney encurtou a vantagem de dois dígitos que tinha com o grupo, Obama aproveitou cada oportunidade para levantar a bandeira feminina. Acusou o rival de se opor à lei de igualdade de salários e de querer acabar com o financiamento do planejamento familiar, negando acesso a contraceptivos e serviços de saúde.

Romney negou e defendeu que a melhor forma de ajudar as mulheres é uma política efetiva de criação de empregos. Mas, ao tentar estabelecer um vínculo emocional, o republicano cometeu a gafe do debate. Disse que trabalhou por maior presença feminina em Massachusetts e pediu para sua equipe indicações para cargos, tendo recebido "fichários cheios de mulheres" - expressão que tem conotação sexual.

O tema ganhou as redes sociais, dominou o noticiário e foi explorado ontem por Obama em comício em Iowa, ao tratar de educação:

- Não precisamos de um bando de fichários para encontrar jovens mulheres talentosas e com vontade de aprender e ensinar.

Ontem, Romney retrucou, apontando que a política econômica do democrata tem prejudicado particularmente as trabalhadoras. Os republicanos soltaram anúncio de TV suavizando as posições de Romney e garantindo a manutenção do programa de planejamento familiar.

- O presidente falhou com as mulheres, que ficaram mais pobres - disse.

Precisando garantir que os latinos votem em grande número, pois o favorecem por 69% a 21%, Obama atacou Romney na política de imigração. Defendeu seu histórico, culpou republicanos por não terem aprovado uma reforma na legislação e acusou o rival de radicalismo, com propostas como veto à lei que facilita a integração de jovens imigrantes, incentivo à autodeportação e apoio à duríssima lei anti-imigração do Arizona, que significariam perseguição a "estudantes e pessoas que só estão aqui porque tentam uma forma de alimentar suas famílias".

O presidente estabeleceu conexão direta com importantes swing states , como Ohio, Wisconsin e Michigan. Advogou o resgate das montadoras - acusando Romney de defender a falência das empresas - e colocou a retomada da criação de empregos industriais como prioridade. E, para a extensa classe média da região, ligou as propostas econômicas do republicano aos anos do governo de George W. Bush.

Romney, porém, foi eficiente no confronto no tema que mais preocupa os americanos, a economia. Acusou o presidente, em comício, de não cumprir promessas e de não ter propostas.

- Vocês não acham que é hora de ele finalmente apresentar uma visão do que fará se for reeleito? Ele tem que pensar em algo até o fim de semana, porque só tem resta um debate.