Título: Em 7 capitais, eleição deve se decidir hoje
Autor: Fernandes, Diana; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 07/10/2012, País, p. 20

Cabral, Anastasia e Teotônio são os três únicos governadores que devem eleger seus candidatos no 1º turno

O resultado da eleição de hoje não produzirá nenhum grande vencedor entre os partidos que disputam as prefeituras das 26 capitais. A expectativa, segundo as últimas pesquisas dos institutos Ibope e Datafolha, é que em apenas nove capitais a eleição será decidida hoje, incluindo o Rio, com a reeleição de Eduardo Paes (PMDB). Em 17 capitais, a escolha do prefeito que tomará posse em 1º de janeiro só deverá acontecer em 28 de outubro, sendo que a disputa mais acirrada ocorrerá mesmo na capital paulista, onde o eleitor não decidiu ainda quais candidatos levará para o segundo turno.

A eleição municipal deste ano, a despeito de ensaios da disputa presidencial de 2014 em alguns estados, mantém a tônica das questões locais, do interesse mais direto do cidadão, não importando muito ao eleitor o partido do candidato. Mas, se forem confirmados os resultados previstos para as capitais, já é possível apontar que saem vitoriosos nessa primeira rodada pelo menos dois políticos de expressão nacional: Aécio Neves (PSDB), em Minas, e Sérgio Cabral (PMDB), no Rio. Os dois devem eleger hoje seus candidatos.

Cabral, aliás, está no seleto grupo de apenas três governadores que poderá comemorar no primeiro turno a vitória de seus candidatos na capital. Além dele, estão no grupo os tucanos Antonio Anastasia, que apoia Márcio Lacerda (PSDB) em Belo Horizonte, e Teotônio Vilella, que lançou Rui Palmeira (PSDB) em Maceió.

Os outros seis prefeitos de capitais que devem ser eleitos hoje não são apoiados pelos governadores. Além de Rio, Belo Horizonte e Goiânia, as eleições devem ser decididas hoje em mais seis capitais, a maioria em estados do Norte e Nordeste: Porto Alegre, Aracaju, Maceió, Palmas, Boa Vista e Natal.

Treze governadores já deverão ver a derrota de seus candidatos hoje mesmo. E outros dez, entre eles o pernambucano Eduardo Campos, levarão a batalha para o segundo turno.

Ainda dentro desse grupo de nove capitais que deve definir a eleição hoje, o PMDB e o PDT saem na frente, com dois prefeitos cada. O PT, que enfrenta seu pior momento com o julgamento do mensalão em curso, só deve eleger um prefeito de capital hoje, o de Goiânia, Paulo Garcia. Os petistas deverão liderar a corrida no segundo turno em três capitais, e a grande expectativa é que uma delas seja São Paulo. Se isso não ocorrer, a disputa mais importante que o PT terá, no dia 28, será em Salvador.

"o grande perdedor é o Lula", diz Villa

Para especialistas e estudiosos ouvidos pelo GLOBO, a eleição é mesmo municipal, e todos que os efeitos dela para a disputa presidencial de 2014 ocorrem "nos bastidores e não no palco principal". Presidente da consultoria Arko Advice, o cientista político Murillo Aragão avalia que, de fato, saem fortalecidos governadores como Cabral e o pernambucano Eduardo Campos - que conseguiu construir um candidato viável em Recife -, mas o poder dessa força em 2014 só será medido mais adiante.

- O governo Dilma não está sendo julgado, e o mensalão tem impacto muito pequeno, maior em São Paulo. O quadro ainda está muito misturado sobre quem vai sair ganhando. No caso do Norte, por exemplo, o PSDB tem mais chances. Mas, no Nordeste, são os partidos da base lulista. A repercussão para 2014 não ocorre no palco principal de agora - disse Murillo Aragão.

Para Jairo Nicolau, professor de Ciência Política da UFRJ, a grande marca dessa eleição é o afastamento entre PSB e PT. Ele concorda que o mensalão é assunto mais restrito a São Paulo:

- O que conta é quem vai governar a cidade. Mas o PSB vem mostrando um quadro de crescimento consistente nas eleições, com ampliação no território nacional. O PSB é um dos vitoriosos. No caso do PT, ainda não dá para dizer que ele não foi bem, porque vai ao segundo turno em cidades importantes.

Já o historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, diz que, para ele, "o grande perdedor" da eleição é ex-presidente Lula. Villa não acredita na possibilidade de o candidato petista Fernando Haddad ir ao segundo turno em São Paulo.

- O grande perdedor é o Lula. Até agora, ele fracassou em suas principais movimentações. Se a candidata fosse Marta Suplicy em São Paulo, ela estaria no segundo turno. No cenário dos partidos, há uma fragmentação partidária. No caso do Rio de Janeiro, falar em vitória de Sérgio Cabral é um pouco de exagero, é mais falta de alternativa do eleitorado carioca. Freixo não conseguiu repetir o Fernando Gabeira (candidato na eleição anterior) - disse Villa, criticando, ainda, a tática do PT em Porto Alegre, onde o partido já controlou a prefeitura por 16 anos, mas este ano está fora da disputa principal.

Confirmadas as pesquisas das últimas semanas, já saem derrotados das urnas hoje governadores como Roseana Sarney (PMDB), do Maranhão; Tarso Genro (PT), do Rio Grande do Sul; e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás.