Título: Indefinição até o último minuto em SP
Autor: Amorim, Silvia; Uribe, Gustavo; Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 07/10/2012, País, p. 25

Acirramento inédito deixa porta aberta para três candidatos disputarem as duas vagas no segundo turno

Mais de 8,6 milhões de eleitores vão às urnas em São Paulo para uma das eleições mais emboladas da história da cidade. A capital paulista, que não tem tradição de disputas apertadas no primeiro turno, promete romper com esse retrospecto e ser palco de uma apuração de votos à prova de nervos para as equipes e os candidatos. Desde 1992, quando o Instituto Datafolha iniciou a divulgação de pesquisas de intenção de voto, o eleitorado paulistano nunca foi para uma votação de primeiro turno com um cenário tão indefinido como o deste ano entre os três principais candidatos: Celso Russomanno (PRB), José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT).

Na mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na quarta-feira passada, Celso Russomanno aparecia com 25%, Serra, 23%, e Haddad, 19%. A margem de erro é de dois pontos percentuais, portanto, há empate técnico entre os candidatos do PSDB e PRB e entre o petista e o tucano. Os diretores do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, e do Instituto Ibope, Márcia Cavallari, concordam que a disputa na reta final do primeiro turno chega em cenário indefinido e não descartam a possibilidade, inclusive, de o candidato do PMDB, Gabriel Chalita, em quarto lugar nos levantamentos de intenção de voto, participar do segundo turno.

Eles observam que mais de um terço dos eleitores ainda não apresenta voto consolidado, o que torna o resultado nas urnas uma incógnita. O diretor do Datafolha explica que as últimas pesquisas eleitorais mostraram que 37% dos eleitores não indicam o nome de um candidato no voto espontâneo, percentual acima do observado no mesmo período em 2008.

- No voto espontâneo, a gente observa que 37% não indicam um nome de um candidato. Em 2008, esse percentual era dez pontos inferior. O voto neste momento está muito volátil, o que provoca essas mudanças de última hora - afirmou Mauro Paulino.

- Nós temos ainda em torno de um terço de eleitores que na pergunta espontânea não cita candidatos, o que significa que o voto não está consolidado - observou Márcia Cavallari.

O primeiro turno mais disputado em São Paulo até hoje foi o da eleição de 2000. A briga pela última vaga no segundo turno se deu entre Paulo Maluf (PP) e Geraldo Alckmin (PSDB). A primeira era de Marta Suplicy (PT), líder isolada. Maluf e Alckmin, empatados tecnicamente nas pesquisas, disputaram voto a voto nas urnas, e o ex-prefeito paulistano levou a melhor por uma diferença de menos de oito mil votos. Marta terminou o primeiro turno com 38%, Maluf, 17,39%, e Alckmin, 17,25% dos votos válidos. Outro acontecimento inédito na eleição paulistana deste ano foi a queda abrupta de Russomanno na reta final. Foram dez pontos percentuais em duas semanas.

- Uma queda com essa intensidade é inédita até aqui. Desde 1985, não houve nenhum candidato que estava na liderança e teve um decréscimo tão expressivo em tão pouco espaço de tempo - afirmou Mauro Paulino.

disputa marcada por reviravoltas

O pleito também tem sido marcado por reviravoltas na preferência do eleitorado desde o início da campanha. José Serra, que começou a eleição líder isolado com cerca de 30% das intenções de voto, perdeu a liderança para Celso Russomanno depois de um mês de campanha. O candidato do PRB manteve a liderança por semanas até que, há 15 dias, começou a sentir os ataques dos adversários e cair nas pesquisas, chegando na semana passada ao empate técnico com José Serra.

Fernando Haddad foi o candidato que conseguiu manter uma relativa estabilidade. Desconhecido pela maioria do eleitorado, ficou estagnado por muitas semanas na margem de 7% e, após a veiculação do horário eleitoral e do explícito apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff, cresceu a ponto de brigar por uma vaga no segundo turno.

Com tanto acirramento, a diretora do Ibope chama a atenção ainda para o crescimento do candidato do PMDB às vésperas do pleito. Na última pesquisa, Gabriel Chalita cresceu de 5% para 9%, em redutos petistas, e de 9% para 12%, em redutos tucanos. Segundo ela, a movimentação "bastante significativa" nos últimos dias intensifica o cenário de indefinição no dia do pleito municipal. Por todos esses fatores, aliados dos candidatos do PRB, PSDB e PT evitaram arriscar nos últimos dias palpites sobre o nome de seus adversários num eventual segundo turno.

Apesar de um número grande de candidatos - são doze -, metade deles passou praticamente invisível pelos eleitores, não registrando mais do que 1% das intenções de voto durante toda a campanha. São Paulo também teve a marca da propaganda mais cara do país. Entre as cifras milionárias, Fernando Haddad teve gastos já contabilizados de R$ 16,5 milhões. José Serra foi o que chegou mais perto, com R$ 8,4 milhões, conforme os números da segunda prestação parcial de contas apresentada pelos candidatos à Justiça Eleitoral.