Título: Em Fortaleza, pesquisas indicam 2º turno entre petista e socialista
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 07/10/2012, País, p. 30
Racha entre PT e PSB, no entanto, fortalece PMDB para 2014
A julgar pelas pesquisas eleitorais, o próximo prefeito de Fortaleza será definido no segundo turno entre os candidatos do PT e do PSB. Mas o partido vitorioso na eleição da capital, qualquer que seja ele, terá que lidar, pela frente, com um aliado que só faz crescer seu poder de influência na cidade e no estado: o PMDB. Com o fim da aliança entre PT e PSB, o PMDB fez toda uma articulação para ser o senhor da eleição estadual de 2014.
Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, dia 4, mostra empate entre o petista Elmano de Freitas e o candidato do PSB, Roberto Cláudio, ambos com 23% das intenções de votos. O candidato do DEM, Moroni Torgan, que no início deu a seus correligionários a esperança de que o partido retomaria o poder de uma grande capital no Nordeste, está em queda há quase um mês. Chegou a mais de 30% das intenções de votos e chega o dia da eleição com 17%.
É em cima da fragilidade do DEM e do racha entre PT e PSB, que o PMDB quer crescer. O cálculo dos peemedebistas é matemático e político, embora não leve em consideração o fator tempo, que pode mudar todo o quadro em 2014. Para eles, o PT sairá desgastado da eleição deste ano porque não conquistará prefeituras importantes no estado - com exceção da possibilidade de vitória em Fortaleza.
O mesmo ocorre com o PSB, que está na mesma condição política do PT. Além disso, o governador Cid Gomes (PSB) não pode concorrer a mais uma reeleição e também não pode indicar o irmão, Ciro, pelo grau de parentesco e porque configuraria um terceiro mandato disfarçado.
No PT, o nome mais lembrado para a sucessão de Cid Gomes é o da prefeita Luizianne Lins, mas os peemedebistas dizem que os índices de aprovação dela são ruins - embora ela esteja recuperando sua popularidade durante o horário eleitoral - e que o PT não tem capilaridade no estado.
A oposição também sai desgastada da eleição. Além do fraco desempenho do candidato do DEM, o PSDB praticamente foi aniquilado - a projeção é que consiga eleger apenas 15 prefeitos, entre os 184 municípios cearenses.
Para lideranças peemedebistas locais, isso deixa o partido com a faca e o queijo na mão. O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), embora ainda não admita publicamente suas pretensões, sonha em ser o candidato ao governo do estado.
Para tanto, no cenário perfeito para os peemedebistas, espera ter o apoio do PT, em troca da vaga na chapa para Senado, que poderia ser oferecida a Luizianne Lins. Outro trunfo nas mãos do PMDB é o fato de que o primeiro suplente de Eunício no Senado, Waldemir Catanho, é do PT e assumiria a vaga caso ele fosse eleito governador.
Com o PSB, a conversa poderá ser mais fácil. O vice-governador, Domingos Gomes de Aguiar Filho, é do partido. O candidato a vice-prefeito na chapa de Roberto Cláudio (PSB), Gaudêncio Lucena (PMDB), é sócio de Eunício.
- O PMDB vai sair muito fortalecido porque vai fazer prefeitos em grandes cidades. E estará na mesa de 2014. Em qual circunstância, não sei - desconversa o senador.
Embora aparentemente perfeito, o plano do partido pode esbarrar no imponderável. Cid disse em conversa ao GLOBO que pretende cumprir seu mandato até o fim de 2014 e que não vai se candidatar ao Senado. Mas pondera que pode deixar o cargo antes, caso o irmão Ciro queira se candidatar ao Senado.
- Ele tem dito que não quer - diz, deixando o mistério no ar.
Luizianne, como Cid, é cautelosa ao falar do futuro. Por ora, pensa em se mudar para o Rio, no ano que vem, para tentar fazer mestrado em filosofia na PUC. Mas adianta ser difícil a volta da parceria com o PSB em 2014:
- O PT sente-se completamente livre em 2014, já que houve rompimento pelo PSB - diz, sem poupar críticas ao ex-aliado e, sobretudo, à família Gomes: Eles procuram motivos para justificar a sede de poder da oligarquia Ferreira Gomes. Querem dominar Fortaleza como acham que dominam Sobral.
Outra novidade na eleição de Fortaleza este ano foi a ausência do ex-governador e ex-senador tucano Tasso Jereissati dos palanques. Mas ele não deixou a política de lado. Quase todos os dias, prefeitos, deputados e vereadores o procuram em seu amplo escritório, no 12º andar de um edifício no Shopping Iguatemi, que pertence à sua família. A sala tem uma visão privilegiada da cidade. Imagens de santos, uma ampla mesa de trabalho e sofás de tom claro decoram o ambiente.
Tasso não apareceu no vídeo nem mesmo para pedir votos para o candidato do PSDB à prefeitura de Fortaleza, o ex-deputado Marcos Cals, filho do ex-ministro de Minas e Energia Cesar Cals, que termina a campanha com 3% das intenções de votos.
O ex-presidente nacional do PSDB diz que não será mais candidato a nada, mas continua ligado na política. De Fortaleza, vê o senador Aécio Neves (PSDB-MG) começar a esboçar um plano de voo rumo à candidatura à Presidência. A amigos, diz que José Serra não terá condições de tentar disputar a indicação com Aécio por dois motivos: se ganhar a Prefeitura de São Paulo, não poderá mais deixá-la para se candidatar, como fez da outra vez. Se perder, ficará sem força política.
Em conversas reservadas, Tasso avalia que para Aécio ter alguma chance contra a presidente Dilma Rousseff em 2014, terá de começar já a construir alianças e a se tornar mais presente para o público. Vê nele uma habilidade para costuras políticas que outros, como Serra, não têm. O tucano cearense abandonou a política em 2010, depois de perder a reeleição para os candidatos apoiados por Lula, que fez da disputa no estado uma espécie de vingança contra seu opositor. Até voltaria a se engajar num projeto nacional, com uma base unida, mas sem disputar mandato. A vida, cuidando dos negócios e da família, está mais tranquila sem as agruras diárias da política, costuma dizer.