Título: Ambientalistas e ruralistas pretendem recorrer ao STF
Autor: Krakovics, Fernanda
Fonte: O Globo, 19/10/2012, País, p. 8
Kátia Abreu, presidente da CNA, acha que lei traz segurança jurídica
Se para o governo os vetos ao Código Florestal são página virada, para ruralistas e ambientalistas o sentimento é diferente, e as duas partes, antagônicas no debate, cogitam a mesma medida: questionar a mudança feita pela presidente no Supremo Tribunal Federal (STF).
Da ala mais radical da bancada ruralista, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) afirmou que seu partido questionará os vetos no STF, por meio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin):
— O Democratas vai entrar com Adin no STF contra o decreto da presidente, que resolveu legislar sobre o Código Florestal via Diário Oficial. O govemo federal está usurpando e afrontando o Congresso Nacional ao querer legislar.
Apesar de defender a votação dos vetos, a presidente da Confederação Nacional da Agricultura, senadora Kátia Abreu (PSD-TO), comemorou a sanção da lei afirmando que ela traz segurança jurídica para o campo:
Se não estou satisfeita 100% como produtora rural, eu me considero 100% contemplada como cidadã. Todos tiveram espaço para debater, e nós chegamos a um bom termo em uma legislação. Se existe derrota para os ruralistas, só se for uma derrota de pirro. Com mais uma derrota dessas, eu sou uma das mulheres mais felizes do mundo.
O Comitê Brasil, formado por cerca de 200 ONGs ambientalistas, se reúne na próxima terça-feira para decidir sobre a Adin a ser apresentada ao STF para tentar derrubar a Medida Provisória aprovada pelo Congresso e as mudanças embutidas no decreto publicado pela presidente Dilma Rousseff.
Nem o Legislativo, nem o Executivo conseguiram fazer uma boa lei para o meio ambiente, que evite novos desmatamentos e dê estabilidade ao produtor rural. A esperança é que o Judiciário arbitre a questão e analise o tema ambiental com olhar atencioso e com sensibilidade — afirma Kenzo Jucá, analista de políticas públicas da WWF Brasil.
Segundo Jucá, o embate e o impasse entre o Legislativo e o Executivo durante a aprovação da MP deram origem a uma série de irregularidades e in- constitucionalidades no trâmite da matéria no Congresso Nacional. Ao mesmo tempo, diz ele, o decreto de vetos de Dilma também extrapola o papel de regulação e legisla sobre o conteúdo da lei.
É uma tentativa do Executivo de extrapolar suas funções. Não foi uma regulamentação. Foi criada nova norma e trata-se de um vício de origem.
O governo não pode legislar por decreto — diz ele.
Para o representante da WWF Brasil, o meio ambiente não teve qualquer ganho com a mudança do Código Florestal, que ficou pior do que o código anterior, que era de 1934.
É um retrocesso de 78 anos — diz ele.
Para Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica, nem a Medida Provisória, nem o decreto foram suficientes para criar normas que de fato protegessem o meio ambiente.
Precisamos de uma legislação técnica e científica, não política. Não é uma lei dos ruralistas ou dos ambientalistas, é uma lei do Brasil, e a polarização, a medição de forças, resultaram num retrocesso. A presidente Dilma Rousseff não teve a governança que acreditava ter para resolver o impasse — disse.
Malu afirmou que a metragem a ser recuperada em margens de rios não obedece a critérios científicos.
Ficou um estica e puxa. Os ruralistas queriam 15 metros, os ambientalistas, 30 metros. Ficou em 20 metros. Isso terá impacto significativo nas bacias hidrográficas. Em alguns casos, os 30 metros já eram insuficientes para conter a erosão, diz ela.