Título: Jabuti anuncia vencedores com polêmica
Autor: Abos, Márcia
Fonte: O Globo, 19/10/2012, País, p. 9

Jurado define prêmio de literatura ao dar notas entre zero e 1,5 para finalistas como Ana Maria Machado.

Numa reviravolta decidida por um dos três jurados do Prêmio Jabuti, "Nihonjin" (Editora Benvirá), do paranaense Oscar Nakasato, foi o romance vencedor da premiação, uma das mais importantes da literatura brasileira. O "jurado C" - segundo o regulamento do Jabuti, a composição do júri só é divulgada após o prêmio ser entregue - optou por dar notas entre zero e 1,5 a cinco dos dez finalistas. Esses votos definiram o resultado final, surpreendendo o público presente na apuração, realizada ontem na Câmara Brasileira do Livro (CBL), em São Paulo.

A avaliação mais baixa do "jurado C" foi para o romance "Infâmia" (Alfaguara), de Ana Maria Machado: notas zero nas categorias enredo e construção de personagens e nota 0,5 na categoria estilo. O romance tinha sido o segundo mais votado na primeira fase do prêmio e, nesta fase final, recebeu cinco notas dez e uma nota 9,5 dos outros dois integrantes do júri, sendo o mais bem avaliado entre todos os outros concorrentes.

- Ficamos chocados e desnorteados com as notas zero e meio de Ana Maria Machado - reconhece José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio Jabuti, descartando a possibilidade de anulação do prêmio. - Não me senti confortável em questionar o voto do jurado C após a apuração. Se crio uma regra e dou a ele as cédulas para votar, não posso questionar a soberania de um voto feito dentro do regulamento. Dar as notas que bem entender é um direito do jurado, ainda que como curador eu não concorde com a estratégia que ele adotou. Não considero o jurado C adequado ao prêmio, ele usou uma falha minha e abusou do poder que tinha. Vou reavaliar sua participação. Mas não posso mudar o resultado. Ele é inquestionável e não pode ser anulado.

O "jurado C" também deu notas até 1,5 para obras de Wilson Bueno (o mais bem votado na primeira fase), Luciana Hidalgo, Paulo Scott e Menalton Braff. Ele ainda deu notas cinco para Domingos Pellegrini, e entre 9,5 e dez para Julián Fuks. Ao vencedor, deu 10 em todos os quesitos.

Ana Maria Machado disse que não sabia das notas e não lhe cabia opinar:

- O único que posso dizer é que o grande julgamento é do leitor. É ele que sabe se gosta ou não do personagem. Um jurado é um leitor com poder neste momento, mas é só mais um leitor.

O segundo e terceiro lugar da categoria romance foram respectivamente para as obras "Naqueles morros, depois da chuva" (Hedra), de Edival Lourenço, e "Estranho no corredor" (Editora 34), de Chico Lopes. A obra vencedora foi publicada graças ao Prêmio Benvirá, que escolheu o romance do desconhecido Nakasato entre 1.932 concorrentes. É o primeiro romance do professor de Ensino Médio e graduação.

- Prêmios são subjetivos. Fosse outra a comissão julgadora, o resultado seria totalmente diferente - disse ele.

Até o ano passado, os jurados do Jabuti só podiam dar notas de oito a dez aos finalistas. Segundo Goldfarb, a regra foi mudada este ano porque alguns jurados davam notas menores do que oito, implicando sua anulação. O curador diz que em 2013 o prêmio poderá voltar à regra antiga ou ter quatro jurados, descartando as notas mais baixas:

- Causa algum alívio saber que as obras vencedoras foram bem pontuadas pelos outros dois jurados. Tínhamos dez ótimos finalistas.

Outros premiados incluem "Alumbramentos" (Iluminuras), de Maria Lúcia Dal Farra, na categoria poesia; "O destino das metáforas" (Iluminuras), de Sidney Rocha, na categoria contos e crônicas; "Benjamin: Poemas com desenhos e músicas" (Melhoramentos), de Biagio D'Angelo (infantil); e "A mocinha do Mercado Central" (Globo), de Stella Maris Rezende (juvenil). O primeiro lugar de cada categoria receberá R$ 3.500 e um troféu na premiação de 28 de novembro, quando também serão conhecidos os prêmios de Livro do Ano de Ficção e de Não Ficção.