Título: Cortes consecutivos da Taxa Selic dividem economistas
Autor: D'ercole, Ronaldo; Scrivano, Roberta
Fonte: O Globo, 19/10/2012, Economia, p. 41

Para especialistas, juro deve subir se houver forte retomada.

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de estender o corte da taxa básica de juros (Selic) a 7,25% divide economistas. Um grupo mais teórico, que inclui o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), considera que o Banco Central (BC) exagerou ao levar os juros reais abaixo de 2% (considerandose o IPCA acumulado nos 12 meses até setembro, de 5,28%) e que cortou a Selic além do recomendável. A consultoria LCA, por exemplo, considera que o BC "se aventurou ao testar taxas" abaixo do chamado juro neutro — em torno de 3%, patamar considerado adequado para que o país cresça em linha com o potencial de expansão do PIB, próximo de 4%. Tais avaliações vão de encontro às de outras consultorias e mesmo de economistas de bancos de varejo. Para eles, o BC soube usar a conjuntura de baixo crescimento e crise lá fora, para levar a Selic a um ponto que, junto com outras medidas, estimulasse a economia sem reanimar a inflação. — Não houve erro, porque a economia estava crescendo muito abaixo do potencial e, até que reaja, há espaço para o juro real ficar abaixo do patamar considerado neutro — afirma Caio Megale, economista do Itaú Unibanco. É unânime entre os analistas a avaliação de que, com a retomada de um ritmo mais forte da economia no próximo ano, a inflação voltará a ser ainda mais pressionada, e o BC terá de subir os juros. — Se o governo deixar para aumentar a gasolina em fevereiro, pode jogar a inflação para 6%, e aí o BC será chamado a agir. Deve começar com as macroprudenciais (retirada de estímulos setoriais), de praxe, e depois aumentar a Taxa Selic — diz Sergio Vale, economistachefe da MB Associados.

ANALISTA FALA EM AVENTURA

Homero Guizzo, da LCA, admite que o país conviverá com índices de inflação "um pouco acima da meta", situação que será compensada pela crise internacional: — O BC tem o diagnóstico de que o juro real está abaixo do neutro. Eles se dedicaram a essa aventura de testar o nível de juro real. Porém, a Selic volta a subir no quarto trimestre do ano que vem, após consecutivos trimestres de PIB positivo. Silvia Matos, economista do Ibre/FGV, reconhece que o cenário é difícil "de administrar". Mas acha que a redução poderia ter sido freada em 7,5%: — O BC está mais flexívelquanto à meta de inflação. Em 2013, haverá aumento no transporte, no combustível, no salário mínimo. A inflação vai furar o teto, e eles terão de agir — disse.