Título: É preciso fazer a ponte entre curso e carreira
Autor: Neri, Marcelo
Fonte: O Globo, 22/10/2012, Desafios Brasileiros, p. 4

Fundador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV) e recém-empossado presidente do Ipea, o economista Marcelo Neri diz que o maior interesse dos jovens por cursos profissionalizantes ocorreu ao mesmo tempo em que aumentaram a nova classe média e o emprego formal

Qual é a importância da formação de técnicos para o país?

O ensino técnico é um atalho para o mercado de trabalho. Atende diretamente aos anseios de formação profissional dos jovens. São cursos específicos para quem está no ensino médio, têm uma duração menor e permitem conciliar estudo e trabalho.

Na pesquisa "As razões da educação profissional", o senhor aponta o desinteresse por cursos profissionalizantes. Por que esse fenômeno?

Em outra pesquisa que fizemos na FGV ("Motivos da evasão escolar", de 2009) indicamos que 40% dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos não frequentam o ensino médio por desinteresse. No caso do ensino profissionalizante a lógica é quase a mesma. Não são cursos feitos para todas as pessoas, eles são mais específicos. Este primeiro filtro, do interesse, é o mais importante para determinar a demanda.

A saída para o ensino médio passa pela integração com a formação profissional?

Se for bem feita, sim. Se houver recursos de bom nível e boa didática, tem grande potencial. Como a principal motivação do jovem para não frequentar o ensino médio é falta de interesse e a outra é a necessidade de trabalhar e gerar renda (27%), com isso (a integração com o ensino técnico) você perfaz dois terços das razões pelas quais as pessoas não cursam o ensino médio.

Como atrair os jovens?

Conceder bolsas é importante. Mas acho que falta uma política de comunicar os impactos da escolarização na renda, adequar os conteúdos e fazer uma melhor ponte entre a escola técnica e a carreira profissional.

Por que a busca por educação profissional varia segundo o estrato social? A demanda é sustentável?

É sustentável e crescente ao longo do tempo. Temos evidências de que essa ascensão continua em 2012. Ainda vamos lançar uma pesquisa a respeito. (C.L.)