Título: PF decide indiciar mais três pessoas
Autor: Rizzo, Alana; Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 06/10/2009, Brasil, p. 10

Investigações começam a revelar como as provas vazaram da gráfica Plural. Pena pode chegar a dois anos de cadeia

São Paulo ¿ Depois de ouvir o capoeirista Felipe Pradella(1), 32 anos, acusado de furtar a prova do Enem da gráfica Plural, em São Paulo, a Polícia Federal resolveu indiciar mais três pessoas no inquérito que investiga o vazamento do exame que seria aplicado em mais de 4 mil estudantes no fim de semana passado. Até agora, cinco pessoas já foram indiciadas até o momento.

No depoimento que prestou à PF, Pradella disse que saiu com a prova da gráfica, mas ela teria sido retirada na fase final da impressão por um colega que a teria repassado a outro funcionário. A PF pretende enquadrar todos os acusados por crime de peculato, violação de sigilo funcional e furto. Cada um deles pode pegar entre seis meses e dois anos de cadeia.

O inquérito apurou até agora que uma pessoa pegou a prova da esteira da gráfica Plural em agosto, quando os exames estavam sendo impressos. Essa pessoa teria admitido que passou o exemplar para uma segunda pessoa que trabalhava no empacotamento das provas. Por sua vez, essa pessoa já identificada e ouvida pela PF a teria repassado a Pradella. ¿Muitas pessoas tinham acesso às provas. Quem quisesse poderia levá-las para casa¿, disse a advogada do capoeirista, Claudete Pinheiro da Silva.

Ontem à tarde, a direção da gráfica entregou à PF 122 DVDs com mais de 16 mil horas de filmagens, o que corresponde a 666 dias de operação no parque gráfico. No entanto, segundo apuraram os investigadores, as pessoas que pegaram as provas da esteira das máquinas de impressão sabiam onde se localizam os locais em que os equipamentos não captam imagens, chamados de pontos cegos.

Até agora, nenhum dos suspeitos foi preso. A PF vai esperar a conclusão do inquérito e é possível que todos os indiciados aguardem o julgamento em liberdade, já que nenhum deles tem antecedentes criminais e todos estão colaborando com as investigações. ¿O Pradella queria apenas mostrar que não havia segurança na gráfica e que a prova poderia sair de lá a qualquer momento. O erro dele foi tentar vendê-la com os amigos por R$ 500 mil¿, disse a advogada.

Pela manhã, o empresário Luciano Rodrigues(2), 39 anos, depôs na PF por quase seis horas. Ele confirmou que foi procurado pelo amigo, o DJ Gregory Camilo de Oliveira(3), 26 anos, com um exemplar da prova na mão. Os dois procuraram a TV Record, o portal de notícias R7 e o jornal Folha de São Paulo para tentar vender a prova por meio milhão de reais. Por último, os dois procuraram o jornal O Estado de São Paulo.

1- Reprovado O capoeirista Felipe Pradella, 32 anos, tentou três vezes o vestibular para administração pública. Não passou em nenhum. Nas horas vagas, fazia bico de segurança e há dois anos era contratado, às vezes, para ajudar na gráfica Plural. Foi dele a ideia de pegar uma das provas.

2- Começa em pizza Gregory se lembrou de um amigo, o empresário Luciano Rodrigues, 39 anos. Formado em publicidade, Luciano abriu uma pequena pizzaria no bairro dos Jardins. Como ele já havia trabalhado no departamento comercial do jornal O Estado de São Paulo, partiu dele a ideia de oferecer a prova por R$ 500 mil.

3- Olho no lucro Com a prova na mão, Felipe procurou o amigo DJ Gregory Camilo de Oliveira, 26 anos. Os dois tiveram a ideia de vendê-la para um órgão de imprensa. Com a prova, eles acreditavam que um veículo de comunicação poderia comprá-la por R$ 500 mil para fazer uma reportagem denunciando as falhas de segurança do Enem.

O Pradella queria apenas mostrar que não havia segurança na gráfica. O erro dele foi tentar vendê-la com os amigos por R$ 500 mil¿

Claudete Pinheiro da Silva, advogada de Felipe Pradella