Título: O que o Brasil quer da China?
Autor: Barbosa, Rubens
Fonte: O Globo, 23/10/2012, Opinião, p. 23

A China, segunda economia e primeiro exportador global, com um crescente alcance militar e econômico na região Indo-Pacífica, está merecendo um tratamento diferenciado por todos os países. Os EUA, no início de 2012, promoveram a mais profunda mudança estratégica na sua política externa, de defesa e comercial, colocando a China no centro de suas preocupações estratégicas.

Desde a crise econômica internacional de 2008, Brasil e China vêm mantendo consultas frequentes para mitigar os efeitos negativos sobre seus respectivos países. Para refletir esse novo estágio das relações sino-brasileiras, ambos os governos decidiram designá-las Parceria Estratégica Global.

Para promover a implementação do Plano de Ação Conjunta, a presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro Wen Jiabao assinaram, no Rio de Janeiro, em 21 de junho último, o Plano Decenal de Cooperação Brasil-China. Na ocasião, foi anunciada a elevação das relações bilaterais à condição de Parceria Estratégica Global.

O Plano Decenal tem por objetivo aprofundar a execução do Plano de Ação Conjunta entre o Brasil e a China 2010-2014, visando a fortalecer o desenvolvimento da Parceria Estratégica bilateral em áreas relevantes, e também estabelecer prioridades e projetos-chave dos dois lados de 2012 a 2021.

As ações prioritárias do Plano Decenal para o período 2012-2021 estão agrupadas em cinco seções:

ciência, tecnologia, inovação e cooperação espacial que, por iniciativa brasileira, figuram na primeira seção temática do Plano.

energia e mineração são tratadas em conjunto com infraestrutura e transportes.

investimentos na cooperação industrial, com vistas à diversificação de investimentos chineses no Brasil. É enfatizada a formação de joint ventures nos segmentos de semicondutores; componentes e peças de reposição para o setor automobilístico; geradores de energia eólica; e ferrovias e equipamentos ferroviários.

econômico-comercial reitera o objetivo de diversificar as exportações brasileiras para a China em setores de maior valor agregado e estabelece metas de crescimento do comércio bilateral.

cooperação cultural e intercâmbio entre as duas sociedades ressalta a relevância do conhecimento mútuo e a aproximação entre os dois povos; o compromisso de intensificar a interação acadêmica e, nessa linha, faz referência específica ao Programa Ciência sem Fronteiras.

O Plano Decenal - que pouca atenção despertou - deveria ser discutido pelos diferentes setores da economia, da indústria e dos trabalhadores dentro de uma perspectiva estratégica. Além dessas prioridades, a saída pelo Pacífico para os produtos brasileiros deveria estar no topo de nossa agenda de política comercial e de integração.

Ao se transformar no principal parceiro comercial do Brasil e um dos maiores investidores no mercado brasileiro, a China deveria merecer uma atenção especial dos nossos formuladores da política externa e comercial para definir o que queremos desse relacionamento.