Título: A força do dinheiro
Autor: Moraes, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 06/10/2009, Brasil, p. 13

IDH apresenta alta graças ao aumento da renda, mas colocação do Brasil poderia ser melhor

O Brasil se manteve no grupo de países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado elevado. Mas o indicador poderia estar em um patamar ainda maior se o governo priorizasse investimentos em educação e, principalmente, em saúde, segundo concluiu o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que divulgou ontem o ranking anual que compara a situação de 182 países.

O avanço do IDH brasileiro, que passou de 0,808 em 2005 para 0,813 em 2007, foi impulsionado principalmente pelo aumento do PIB per capita do país, que subiu de US$ 8,4 mil para US$ 9,5 mil ¿ um incremento de 13,09%. Esse indicador aponta que a renda média do brasileiro aumentou no período. Mas o investimento em saúde e educação entre 2000 e 2007 ficou em 22%, enquanto em países mais desenvolvidos, como Noruega, Austrália e Islândia, ultrapassa os 30%.

A expectativa de vida no país não subiu na mesma proporção da renda: passou de 71,7 anos em 2005 para 72,2 anos em 2007. É a menor entre os países da América do Sul com IDH elevado ¿ ou seja, acima de 0,800. No Chile, a expectativa de vida está em 78,5 anos e no Uruguai, 76,1 anos. Para o economista sênior do Pnud Flávio Comim, esse é um dos principais fatores para que o Brasil ainda esteja no 75º lugar no ranking do IDH, liderado pela Noruega, cujo indicador está em 0,971, numa escala de 0 a 1.

Atrás de Cuba, Argentina e Panamá

O Ministério da Saúde contestou os dados divulgados pelo Pnud. O diretor do departamento de Análise de Situação de Saúde do órgão, Otaliba Libânio, afirma que o programa usou estatísticas de 2005 e que a expectativa de vida no Brasil em 2007 era de 72,7 anos de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). ¿É uma diferença grande para o cálculo do IDH. Isso poderia ter colocado o país num lugar melhor no ranking¿, reclama.

O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, André Lázaro, afirma que o objetivo do governo é investir 5% do Produto Interno Bruto (PIB). ¿Hoje, isso está em 4,2%, mas devemos alcançar a meta até o fim de 2010¿, destacou. Ele afirma ainda que, embora a taxa de analfabetismo esteja em de 10%, o país tem conseguido reduzir o índice na faixa etária entre 15 e 29 anos.

O economista do Pnud Flávio Comim diz que, embora o governo tenha adotado políticas públicas para elevar o IDH nos últimos anos, é preciso fazer com que esse processo ocorra de maneira mais acelerada e de forma a beneficiar os mais pobres. ¿A concentração de renda ainda é um fator que atrapalha o desenvolvimento do país¿, avalia.

Mais países Embora tenha registrado queda na desigualdade desde o início da década, o Brasil ainda está entre os dez países com maior concentração de renda: aqui, os 10% mais ricos detêm 43% do PIB. Na Noruega, os 10% mais ricos concentram 23% da riqueza do país.

As mulheres vivem mais que os homens no Brasil ¿ em média 75,9 anos, contra 68,6 anos. Elas também estudam mais e, mesmo assim, recebem menos: US$ 7,1 mil, enquanto os homens têm salários médios de US$ 12 mil. E apesar de o IDH ter melhorado, o país passou do 70º para o 75º lugar no ranking do Pnud, devido a mudanças no cálculo do programa e à entrada de mais países na lista.

O Chile é o país da América Latina com o maior indicador: 0,878. Argentina, Uruguai, Cuba, México, Venezuela e Panamá aparecem na frente do Brasil no ranking do desenvolvimento. Niger tem o menor IDH entre os 182 países: 0,340, na escala de 0 a 1. (DM)

A concentração de renda ainda é um fator que atrapalha o desenvolvimento do país¿