Título: O mapa de Romney
Autor:
Fonte: O Globo, 24/10/2012, Mundo, p. 29

Campanha tenta explicar frase do candidato, para quem Síria é rota do Irã para o mar, embora países não façam fronteira.

Num debate com o objetivo de avaliar as propostas de política externa de cada candidato, Mitt Romney incorreu num equívoco geográfico que já se tornou marca recorrente em sua campanha. Ao discorrer sobre a crise na Síria e o levante contra o presidente Bashar al-Assad, o ex-governador de Massachusetts afirmou pela sexta vez que o país tem importância estratégica para o Irã porque é "sua rota para o mar".

Na verdade, apesar de Assad ser um grande aliado do regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad, os dois países não fazem fronteira. E o Irã tem acesso ao mar ao sul com o Golfo Pérsico e o Mar da Arábia. O que a Síria oferece ao Irã é acesso físico ao Líbano e ao Hezbollah, que tem papel estratégico para as autoridades em Teerã por sua posição em relação a Israel.

A campanha do republicano explicou o comentário afirmando que "é de conhecimento geral que a Síria oferece ao Irã acesso estratégico ao Mediterrâneo, assim como terroristas por procuração no Oriente Médio. Esta é uma grande razão pela qual o Irã investe tanto na Síria".

CAVALOS E BAIONETAS

Este não foi o único comentário, no entanto, a ganhar ampla repercussão nas redes sociais. Num debate marcado pela tentativa de Romney de apresentar uma faceta mais moderada em relação à política externa e aproveitar as brechas para discutir suas propostas de recuperação da economia, Barack Obama adotou tom agressivo e voltou a acusar o rival de defender políticas ultrapassadas, ao lembrar sua declaração de que a Rússia seria o inimigo número 1 dos Estados Unidos.

- Os anos 1980 estão ligando para pedir de volta sua política externa, porque a Guerra Fria já acabou há 20 anos. Você parece querer importar as políticas dos anos 1980, assim como as políticas sociais dos anos 1950 e as políticas econômicas dos anos 1920 - disse.

Mas nas redes sociais, o tópico mais comentado da noite surgiu durante a discussão sobre cortes no orçamento das Forças Armadas. Romney criticou Obama dizendo que o país tem a menor esquadra desde 1917 e que a Marinha já havia afirmado precisar de ao menos 313 navios para desempenhar suas funções, embora conte com um total de 285 embarcações.

- Governador, nós também temos menos cavalos e baionetas porque a natureza das nossas Forças Armadas mudou - replicou Obama.

O tópico "cavalos e baionetas" se tornou o mais comentado no Twitter e a campanha do presidente chegou a comprar espaço publicitário para buscas na internet sobre o tema. Mas nem todos acharam graça. Obama foi alvo de críticas porque o uso de baioneta faz parte do treinamento dos fuzileiros navais. O dono da Bayonet Inc., Dan Riker, descreveu o comentário como "ignorante"

- Baionetas ainda são distribuídas às Forças Armadas o tempo todo. Ele deveria se instruir - disse, segundo o Huffington Post.