Título: Jornais anunciam apoio a candidatos
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Fonte: O Globo, 26/10/2012, Mundo, p. 32

"Washington Post" e "Los Angeles Times" defendem democrata; "New York Post" prefere republicano.

A menos de duas semanas de uma eleição disputada voto a voto, os jornais americanos iniciaram a temporada de publicação de editoriais nos quais anunciam o endosso a candidaturas, conforme a tradição do país. Dos cem periódicos de maior tiragem, 32 já divulgaram sua posição: 17 apoiam a tentativa de reeleição do presidente Barack Obama e 15 avaliam que o republicano Mitt Romney é a melhor opção para os EUA. Entre os jornais de maior circulação, "Washington Post" e "Los Angeles Times" defendem a campanha democrata; o "New York Post", do magnata Rupert Murdoch, deu apoio a Romney. Até agora, o principal jornal do país, o "New York Times", não anunciou oficialmente sua posição, embora tenha se manifestado a favor de Obama em 2008.

Mesmo os mais engajados defensores da campanha do presidente ressaltam a decepção do eleitorado com o governo, como a influente revista "New Yorker". "Parte disso é reflexo das expectativas fantásticas ligadas a ele. Alguns, muito razoavelmente, estão desapontados com o fracasso de suas políticas (Guantánamo, mudanças climáticas e controle de armas); outros questionam a moralidade do uso persistente de drones (aviões não tripulados)", diz. Mas a publicação avalia que Obama foi bem-sucedido na área social e na política externa aliviando "o sofrimento e a vergonha" impostos por políticas de George W. Bush e concluiu: "Obama renovou a honra do cargo que ocupa."

Colin Powell a favor do democrata

Os editoriais refletem ainda o ambiente polarizado da eleição, em que a identificação ou o repúdio aos candidatos está mais presente do que nunca. Em texto publicado ontem, o "Washington Post" acusa o republicano Mitt Romney de não ter opinião definida sobre qualquer tópico. "A triste resposta é que não há como saber no que Mitt Romney realmente acredita. Sua manifestação descuidada de desprezo por 47% da população parece tão sincera quanto qualquer outra coisa que tenhamos escutado, mas isso é mera conjectura. Todo político muda de opinião algumas vezes, seria preocupante se não mudasse. Mas raras vezes um político foi tão longe com uma única crença imutável: sua convicção de que é o único preparado para o cargo."

O "New York Post", por sua vez, parodiou a tradicional imagem em que Obama aparece transformado numa pintura com a palavra "esperança", substituindo-a por uma de Romney com a expressão "única esperança". "O problema fundamental é a filosofia do presidente. Ele acredita em igualdade de resultados, não igualdade de oportunidades - e não é assim que os EUA devem funcionar. Neste momento, os EUA não estão funcionando".

Mas no estágio atual da disputa, em que os candidatos se lançam em verdadeiras maratonas eleitorais em busca do voto dos eleitores em estados-chave, o apoio de jornais locais ganha destaque. Em Ohio, estado apontado como o mais decisivo para definir o ocupante da Casa Branca nos próximos quatro anos, o principal jornal da capital, o "Columbus Dispatch", decidiu apoiar Romney. "Após quatro anos de estagnação econômica, desemprego maciço, dívida recorde e intromissões do governo na economia que paralisaram o setor privado, os EUA precisam de uma nova direção." Já o "Orlando Sentinel", diário da Flórida, outro estado-chave, avalia que é hora de dar uma chance ao republicano. "Temos pouca confiança que Obama seria mais bem-sucedido em lidar com a economia e o Orçamento nos próximos quatro anos. É por isso que, apesar de o termos apoiado em 2008, estamos recomendando Romney."

As publicações americanas não foram as únicas a anunciar sua escolha. Colin Powell, secretário de Estado no governo George W. Bush, citou os esforços do presidente para acabar com a guerra no Afeganistão e combater o terrorismo para justificar seu apoio pela segunda vez a Obama.

- Votei nele em 2008 e pretendo manter este voto em 2012 - disse, em entrevista à CBS.

Powell classificou as propostas de política externa de Romney como inconsistentes e recebeu uma ligação de agradecimento de Obama.

voto antecipado do presidente

Ontem, Obama tornou-se o primeiro presidente a votar antecipadamente: fez uma parada estratégica para votar em Chicago, num esforço para impulsionar os eleitores democratas a comparecerem às urnas antes de 6 de novembro.

Pesquisa divulgada pela Associated Press-GfK mostra que Romney conta com 47% das intenções de voto e Obama, com 45%. A sondagem revela que o presidente perdeu a vantagem de 16 pontos percentuais entre as mulheres. Agora, ele e Romney estão empatados com 47% de preferência do eleitorado feminino. Diante deste quadro, a candidatura democrata tem explorado ao máximo os comentários do candidato republicano ao Senado Richard Mourdock, para quem a gravidez após estupro representa "a vontade de Deus". O presidente comentou o caso em entrevista ao "Tonight Show" de Jay Leno:

- Isso ressalta o motivo pelo qual você não quer um bando de políticos, a maioria homens, tomando decisões sobre cuidados da mulher.