Título: Haddad, o poste que leva o PT de volta ao poder em SP
Autor: Uribe, Gustavo; Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 29/10/2012, País, p. 3
Eleito com 55,5%, petista agradece a Lula, pede recursos a Dilma e ganha parabéns de Maluf.
Em meio ao desgaste provocado pelo julgamento dos ícones do PT no processo do mensalão, Fernando Haddad assegurou em São Paulo o maior trunfo político do partido nas eleições municipais de 2012. Ex-ministro da Educação, mestre em Economia e doutor em Filosofia, aos 49 anos, o afilhado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu José Serra (PSDB) com 55,57% dos votos (3,3 milhões de eleitores), contra 44,43% do adversário. Em seu primeiro discurso como prefeito eleito, o principal agradecimento foi para Lula, que se empenhou pessoalmente para superar os tucanos. Depois, ele agradeceu à presidente Dilma Rousseff.
Com o resultado definido, Serrra desejou boa sorte ao prefeito eleito, após uma campanha que na reta final foi marcada pela baixaria. Do prefeito Gilberto Kassab (PSD), escudeiro da campanha tucana, Haddad recebeu a garantia de uma transição de alto nível.
Lula e Dilma não estavam ao lado de Haddad na hora dos agradecimentos. No primeiro pronunciamento após as urnas terem lhe concedido o comando da maior cidade do país até 2016, o petista disse esperar recursos e cooperação da presidente para a sua gestão. Por 13 minutos, em discurso ao lado da mulher e dos filhos, Haddad reconheceu que só Lula poderia viabilizar sua candidatura. Na verdade, disse que sem ele seria "impossível" vencer.
- Eu agradeço ao presidente Lula do fundo do meu coração pela confiança, orientação e apoio, sem os quais seria impossível lograr êxito na eleição - afirmou Haddad, cercado por eleitores e militantes do PT.
maluf comemora no palanque do PT
Depois, em cima de um trio elétrico na Avenida Paulista, o prefeito eleito fez questão de mencionar, com ironia, diante de cerca de mil pessoas, a pecha de "poste" de Lula, que carregou durante toda a campanha. O apelido estava ligado ao fato de que ele jamais concorrera em eleições.
- Vocês sabem que sou o segundo poste de Lula? Tem algum candidato a poste aqui? - questionou Haddad, lembrando indiretamente que Dilma também recebera o mesmo apelido.
Quem também comemorou a vitória do PT foi um dos mais ferrenhos adversários históricos da legenda em São Paulo: o deputado Paulo Maluf (PP). Há alguns meses, Maluf e Lula se abraçaram e selara uma aliança para a campanha de Haddad. Agora, Maluf não faz cerimônia para valorizar seu passe, de olho um espaço no governo de Haddad.
- Nós estamos muito felizes com a vitória. A pesquisa Datafolha mostrou que 12% dos eleitores votariam no candidato que eu apoiasse - gabou-se o dirigente do PP, que, batendo palmas, deu parabéns a Haddad e chegou a entoar um dos slogans usados nas campanhas de Lula à Presidência: "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".
As ausências de Lula e Dilma no palanque da vitória, segundo petistas, serviriam para não ofuscar o protagonista da noite.
- Sei que contarei com o apoio decisivo do governo da presidenta Dilma. Mas potencializarei esse apoio com propostas e projetos criativos e irrecusáveis - disse.
O petista agradeceu ainda o conforto e estímulo de Dilma nos "momentos mais difíceis da campanha". Em comício ao lado de Haddad, ainda no primeiro turno, a presidente respondeu a um ataque do tucano José Serra, que havia afirmado que ela não deveria "meter o bico" em São Paulo. Dilma respondeu que tinha o dever de "meter o bico" porque a capital paulista não é uma ilha. No discurso de ontem, Haddad destacou que as prioridade de seu governo serão a área social e a habitação. Alinhado com os discursos de Lula e Dilma, prometeu reduzir a desigualdade social da cidade.
- Vamos derrubar o muro que separa a cidade rica da cidade pobre - prometeu.
Sem citar o rival no segundo turno, o tucano José Serra, Haddad agradeceu os adversários na disputa municipal.
- Eles extraíram o melhor de mim numa disputa democrática - afirmou.
A composição da gestão Haddad deve incluir a participação dos partidos que apoiaram sua candidatura. O PMDB, por exemplo, é cotado para ficar com a Saúde. O PCdoB pode assumir a pasta de Esporte, que já ocupa no governo federal, mas pleiteia a Habitação. Haverá ainda uma preocupação de fazer nomeações que ajudem a compor maioria na Câmara Municipal, já que o PT tem apenas 11 do 55 vereadores da cidade. Outro ponto que deve ser levado em consideração é a disputa interna das correntes petistas. A ideia é contemplar todos os grupos, de acordo com a representatividade no Diretório Municipal.
A ministra Marta Suplicy (Cultura) também comemorou e disse ter ficado de "alma lavada" com a derrota de Serra.
Haddad tem afirmado, porém, que quer dar um caráter técnico a sua equipe de governo. Para a Secretaria de Cultura, quer o filósofo Vladimir Safatle. Ao todo, seis ministros participaram do ato político, entre eles Alexandre Padilha (Saúde), Aloizio Mercadante (Educação), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e José Eduardo Cardozo (Justiça). No discurso, o prefeito eleito também agradeceu o candidato do PMDB derrotado no primeiro turno, Gabriel Chalita, que entrou em campo no segundo turno e participou da festa da vitória.
Haddad viaja hoje para Brasília, onde se encontra com a presidente Dilma. No final da tarde, deve conceder entrevista coletiva em São Paulo para falar sobre os resultados do encontro e fazer um balanço do segundo turno.