Título: Especialistas: siglas têm de buscar novos quadros
Autor: Uribe, Gustavo; Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 29/10/2012, País, p. 4

Desgaste da imagem de Serra e rejeição a Kassab também explicariam vitória de petista e derrota do PSDB em SP.

A vitória em São Paulo de um candidato que nunca havia participado de uma eleição é a prova da demanda do eleitor pela renovação na política brasileira. Essa é a opinião de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO. E o movimento, dizem, depende de novos quadros e da aposta em nomes até hoje pouco conhecidos.

- Há uma demanda muito grande pelo novo por parte do eleitorado - afirma o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fernando Abrucio, avaliando ainda que o erro do PSDB na eleição paulistana foi optar por José Serra, que disputou cinco eleições na última década.

- O PSDB tem que começar a se renovar em todos os níveis. O partido está com uma imagem para o eleitorado de partido carcomido, ligado a políticos antigos - analisa Abrucio.

Valeriano Costa, professor de Ciência Política da Unicamp, entende que os tucanos sairiam da eleição com um saldo positivo, mesmo em caso de derrota, se apostassem em um nome novo.

- A estratégia correta era tentar uma renovação de liderança. Mesmo que o escolhido perdesse, seria formada uma nova liderança - acredita Costa.

O professor da Unicamp entende que a estrutura de poder dentro do PT, centralizada na figura do ex-presidente Lula, mentor da candidatura de Haddad, favoreceu a renovação que faltou ao adversário.

- O PT adotou uma posição de colocar lideranças novas nas cidades em que está desgastado. E isso deu certo. Sem a interferência do Lula, a Marta não teria deixado o Haddad ser candidato - complementa.

Fernando Abrucio avalia, porém, que a vitória de Haddad não pode ser atribuída apenas à transferência de popularidade do ex-presidente Lula. O grande mérito do líder petista, segundo o especialista, foi ter traçado a estratégia de apostar num candidato desconhecido.

- O Lula teve a intuição de perceber que está se fechando o ciclo político daqueles nomes que fizeram a redemocratização.

Fernando Antonio Azevedo, professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), avalia que a vitória de Haddad indica o fim político da geração de ícones petistas que viraram réus do mensalão, como José Dirceu e José Genoino.

- Essa geração antiga do PT, do Genoino e do Dirceu, está superada. A vitória do Haddad abre caminho para uma nova geração.

Além da renovação política, os especialistas também apontam a elevada relevância dos fatores locais para o desfecho da eleição de São Paulo. Abrucio conclui que a soma da rejeição de Serra com a má avaliação da gestão Kassab na prefeitura criaram uma combinação que inviabilizou um desempenho vitorioso do tucano.

Para 2014, a derrota de Serra aponta um caminho nítido para os tucanos: a consolidação da candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República.

- O Serra queimou o último cartucho como candidato a cargo no Executivo- analisa Fernando Azevedo, da Ufscar.