Título: Aloysio Nunes: faltou luta na disputa em SP
Autor: Jungblut, Cristiane; Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 30/10/2012, País, p. 7

Coordenador da campanha tucana admite que houve "negligência"; após derrota, Serra submerge.

Enquanto José Serra submerge para avaliar seu futuro político após a derrota para Fernando Haddad (PT) em São Paulo, os principais líderes tucanos começaram ontem a discutir os motivos pelos quais o partido perdeu a prefeitura da maior cidade do país. E na avaliação de um dos principais aliados e coordenador da campanha de José Serra, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o PSDB perdeu por "negligência política" e "falta de luta".

Em discurso no Senado, Aloysio Nunes disse que o partido e os coordenadores da campanha não conseguiram reverter junto à população a impressão de que Serra deixaria mais tarde a prefeitura, caso eleito. Este ponto foi explorado pelos adversários porque Serra já deixara a prefeitura de São Paulo para concorrer ao governo estadual, em 2005.

- O que aconteceu, repito, é que, pela ação dos nossos adversários e por negligência política nossa, acabou se cristalizando na consciência do eleitor algo que, na verdade, foi o grande empecilho a que o Serra, cuja biografia e cuja competência jamais foram questionadas por nenhum dos nossos adversários, lograsse vitória nas eleições: a ideia de que o Serra, eleito, poderia vir a abandonar a prefeitura. Por que o resultado eleitoral adverso? Porque a ação administrativa não foi acompanhada da luta política; do esclarecimento das consciências; da articulação com a base da sociedade - avaliou o senador Aloysio Nunes.

Aloysio utilizou o discurso para fazer um verdadeiro balanço dos erros do partido em São Paulo. Para o senador, faltou até maior oposição ao PT, como fizeram na época em que a petista Marta Suplicy comandou a cidade.

- O que houve, na verdade, foi falta de luta política, de presença política. E aí faço uma autocrítica do meu partido: falta de presença política constante na cidade, como exercemos durante o mandato da prefeita Marta Suplicy, na luta da oposição. Não relaxamos um segundo sequer na oposição à prefeita Marta Suplicy, apontando, denunciando, chamando a atenção, propondo, coisa que não fizemos depois - afirmou.

falta de capacidade de reação

Para ele, foram plantadas "mentiras" sobre Serra, que não conseguiram ser desconstruídas.

- Na minha visão, o principal fator da derrota do nosso candidato à prefeitura foi o fato de terem transitado em julgado na consciência do eleitor paulistano duas mentiras: a de que o Serra abandonou a cidade de São Paulo, mentira essa que subentende outra, a de que a cidade está abandonada - analisou o senador, que disse sair das eleições "um pouco empoeirado e com algumas cicatrizes".

O senador tucano ainda colocou em dúvida a avaliação de que Serra perdeu porque Fernando Haddad representava "o novo" e que o PSDB deveria ter investido em um candidato menos "batido".

- Tenho minhas dúvidas sobre esse poder miraculoso do novo nas eleições. Fosse assim, Arthur Virgílio (PSDB) não teria sido eleito prefeito de Manaus - disse o senador.

Aliados de Serra disseram ontem que a tendência é do tucano submergir nas próximas semanas para fazer uma avaliação dos erros e acertos da campanha e discutir a situação do partido no estado. Bastante assíduo no Twitter, o tucano nem escreveu mensagens ontem para o microblog. As últimas postagens foram feitas por ele horas depois do discurso de reconhecimento da derrota anteontem à noite.

Hoje, a bancada do PSDB na Câmara fará uma reunião para avaliar o desempenho da sigla em todo o país. Deputados paulistas ligados a Serra vão aproveitar a ocasião para sair em defesa do tucano, diante da ameaça de perda ainda maior de espaço político dele na sigla por causa da derrota eleitoral.

- Temos que reconhecer o gesto de homem de partido de Serra. Nesta eleição, ele não se impôs. Muita gente dentro do partido, desde o governador até lideranças nacionais, pediu para ele ser candidato para assegurar as conquistas do partido. Ele aceitou. A pecha de renúncia que ele ganhou quando deixou a prefeitura para disputar o governo do estado também foi para atender a um chamamento do partido - disse o deputado Walter Feldman, que também participou da coordenação da campanha do tucano para a prefeitura de São Paulo.