Título: PT e PSDB lutam por mais de 40 milhões
Autor: Braga, Isabel; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 28/10/2012, País, p. 7

Apenas na eleição em São Paulo, tucanos e petistas querem governar mais de 11,3 milhões de pessoas

brASÍLIA Nas campanhas de segundo turno, PT e PSDB se consolidam como os partidos que pretendem governar o maior número de brasileiros, enquanto o PMDB é o campeão de votos pulverizados em cidades menores. Cada partido contabiliza, nas campanhas de segundo turno, um eleitorado que representa mais de 22 milhões de pessoas, número puxado pelos 11,3 de moradores da capital paulista, onde petistas e tucanos são adversários diretos. Se vencer com Fernando Haddad hoje em São Paulo, como apontam as pesquisas, o PT irá governar para pelo menos 32,9 milhões de pessoas, cerca de 16% da população.

No primeiro turno, o partido conquistou municípios com população de cerca de 21,6 milhões de habitantes. O PT disputa em 20 outras cidades neste segundo turno e ainda poderá conquistar municípios que somam hoje mais 14,3 milhões de habitantes, além de São Paulo.

PSB já governa para 15 milhões

Já o PSDB, no primeiro turno, ganhou em municípios que somam mais de 18,8 milhões de habitantes. E disputa, neste segundo turno, cidades com cerca de 22 milhões de habitantes, incluindo a capital paulista. O PMDB fez o maior número de prefeituras no primeiro turno e nas cidades onde ganhou, os habitantes somam mais de 28 milhões, a maior marca - que pode ser perdida para o PT, se Haddad ganhar em São Paulo.

O PSB do governador Eduardo Campos (PE) elegeu no primeiro turno prefeitos em cidades que somam mais de 15 milhões de habitantes. Neste segundo turno, disputa em sete cidades, incluindo Fortaleza.

Para especialistas, o crescimento de partidos como PT e PSB nas últimas quatro eleições municipais está mais relacionado ao peso da máquina federal do que uma guinada do eleitorado brasileiro para a chamada centro-esquerda. Dizem que o mesmo fenômeno ocorreu em eleições anteriores, sob o comando, por exemplo, do presidente Fernando Henrique Cardoso, com o crescimento do próprio PSDB nos municípios e do antigo PFL, hoje DEM. PP e PMDB, que apoiaram os governos do PSDB e PT, também cresceram.

Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos, o historiador Marco Antonio Villa vai além e diz que na eleição municipal há a mercantilização do apoio e uma migração, após eleitos, de prefeitos para os partidos do governador do estado.

- O que temos é a questão da máquina estadual e federal, não há a relação político-ideológica entre partidos e políticos. O candidato é eleito com o apoio dos governantes ou por sua liderança pessoal, ou de famílias. Diferente de democracias mais antigas, no Brasil não há ainda a semente político-partidária, a ideologia de projetos - afirmou Villa. - Falar em clivagem de direita, centro esquerda no país, é absolutamente equivocado. É difícil chamar o PSB de partido de esquerda. O PT, de há muito não é um partido de esquerda. E nem os candidatos do PSDB são sociais democratas no sentido clássico da Europa ocidental.

sem guinada ideológica do eleitorado

O sociólogo Luiz Werneck Vianna, professor pesquisador da PUC-Rio faz avaliação semelhante:

- A política brasileira vem gravitando em torno do centro faz tempo, com algumas variações, ora à esquerda ora à direita. Existe o peso da máquina (federal e estadual), claro. O que se pode entender como movimento à esquerda nesta eleição municipal é a votação do PSOL, bastante expressiva em algumas cidades.

Para o secretário de mobilização do PT, Paulo Frateschi, o crescimento gradual de prefeituras do PT e do PSB nas últimas eleições é sinal de vitória do projeto defendido por estes partidos:

- São as teses do PT e dos partidos que nos apoiam que estão vencendo. Ninguém mais vai para a TV defender as privatizações. Todos assumiram o discurso da inclusão social, dos programas de transferência de renda.

A despeito da redução numérica de prefeituras no primeiro turno, o secretário-geral do PSDB paulista, César Gontijo, reafirma a força do partido no interior do estado. Em 2008, o PSDB elegeu 205 prefeitos em São Paulo. No primeiro turno deste ano, foram eleitos 176 prefeitos tucanos em no estado, o partido ainda disputa em outras sete:

- Fizemos em São Paulo 5 milhões 680 mil votos no primeiro turno. Número superior ao do partido que rivaliza conosco, o PT. Esperamos que esse desempenho se repita no segundo turno. Elegemos prefeitos nas cidades maiores do estado.