Título: Confusão na votação de réus do mensalão
Autor: Abos, Marcia; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 29/10/2012, País, p. 9

Seção de Genoino teve pancadaria; Dirceu não falou.

Condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa e formação de quadrilha no julgamento do mensalão, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino levaram militantes do partido a tiracolo para evitar que fossem hostilizados na hora de votar - e o resultado foi tumulto e bate-boca envolvendo apoiadores, eleitores e jornalistas. A tensão foi maior na Universidade São Judas, no Butantã, Zona Oeste de São Paulo, onde a votação de Genoino terminou com pancadaria e cenas de vandalismo.

Militantes do partido xingaram e bateram em repórteres que tentaram se aproximar do ex-dirigente petista, além de derrubar eleitores que chegavam para votar. Uma delas foi a aposentada Jose Bacarácia, de 82 anos, que usava bengala. Aproximadamente 50 pessoas formaram um cordão em torno de Genoino e caminharam pelos corredores empurrando cadeiras e chutando lixeiras. O vidro do mural de avisos da universidade foi quebrado e o equipamento de fotógrafos e cinegrafistas, danificado.

Um dos agressores foi o coordenador da Comissão de Ética do PT paulista, o advogado Danilo Camargo, que empurrou o humorista Oscar Filho, do programa "CQC", da TV Bandeirantes, para uma das salas e o agrediu com socos no rosto. Ele foi atendido na enfermaria do colégio eleitoral.

Procurado depois pelo GLOBO, Camargo disse ter sido provocado pelo humorista antes e depois da votação. Ele admitiu que o grupo perdeu o controle:

- Era uma massa de gente. Foi uma loucura. Estava difícil controlar.

Genoino vestia uma bandeira do Brasil como capa e a usava para esconder o rosto e não ser fotografado. Em meio à confusão, agitava o braço esquerdo com o punho cerrado e não respondia às perguntas de jornalistas.

Ao chegar à Escola Estadual Princesa Isabel, no Bosque da Saúde, Zona Sul de São Paulo, para votar, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu ouviu gritos de apoio da militância petista, em maior número, e de eleitores que o chamavam de "ladrão". Os dois grupos bateram boca dentro do colégio eleitoral, mas não houve agressão. Dirceu não quis dar entrevistas.

- Só vou falar quando acabar o julgamento - afirmou o ex-ministro, cujas penas por causa de seu envolvimento no mensalão ainda serão definidas pelos ministros do STF.

Humoristas tentaram entregar maços de cigarro tanto a Dirceu quanto a Genoino, numa referência à possibilidade de eles virem a ser presos em função das condenações no Supremo. No caso de Dirceu, integrantes do "CQC" tentaram entregar a ele uma revista "Playboy", mas ele não pegou.

Passadas as eleições, apoiadores dos dois petistas esperam contar com a adesão do partido à tese defendida por eles de que o julgamento do mensalão foi "político" e de "exceção". Ontem, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse não querer "revanche" com o julgamento do mensalão tucano:

- Não quero que julguem o mensalão tucano da mesma maneira, o Supremo devia funcionar como Corte isenta e não se deixar levar pelo clamor da mídia, pela opinião pública. Tem que julgar de acordo com provas e respeitando a presunção da inocência, o direito à ampla defesa - afirmou Rui Falcão, que anunciou a divulgação de uma nota do partido nesta semana sobre o tema.